NA SOMBRA...

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Vem comigo?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Memórias 3


Ao dar uma voltinha nos arredores do anel olímpico descubro que a diária mais barata era num apart do Donald Trump (o cara é dono de quase toda a cidade), que custava 300 dólares. Por ter pago 30 na coreana biruta, senti ali que eu estava FUDIDO!
Resolvi andar. Comprei um mapa e saí vagando aleatoriamente pela cidade. O problema era o peso da minha bagagem, além do tamanho. Sempre achei que meu almanque do Huguinho, Zezinho e Luisinho me seria útil algum dia da vida. Na verdade já havia usado muito dele nos acampamentos selvagens que fazia às margens do Rio Preto, na Serra de Itatiaia, ali pelas bandas da Maromba, nos idos dos anos 1980 e poucos. Mas testaria agora na civilização. Passei o primeiro dia todo andando, tirando fotos e fazendo reconhecimento do anel e seu entorno, espaço considerado o mais seguro de todos à época. Quando caiu a noite, percebi que não havia outra solução: dormir na rua! E vaguei de banco em banco até o sol aparecer e não me permitir mais relaxar (lá é quente pra caralho). Disse "de banco em banco" porque os guardas não permitiam dormir na rua. Então eu me aconchegava em algum lugar, vinha um puto e me acordava, mandando sair dali, mas não dava nenhuma opção viável.
Já bem cedo voltava por uma rua antiga atrás de uma lanchonete pé-de-chinelo que havia visto, quando escuto alguém gritar meu nome! Égua! Não é possível! Mas era! Meus amigos de SP que andavam por lá haviam alugado um carro. Que beleza. Abraços efusivos e muita conversa jogada fora, guardei minha bagagem no carro e marcamos encontro à noite, antes deles partirem (estavam hospedados em Macon/Georgia) para que eu a pegasse de novo.
Minha missão naquele dia também seria andar e fotografar.
Ao final da tarde, minha vida saudável me salvou: parei numa barraca de frutas pra almoçar e conversei com a dona, contando minha história de homeless. E então ela me aponta uma garçonete, no restaurante atrás da barraca, brasileira! OLHA! Nós já invadimos o mundo (achei brasileiro já em cada lugar...). A garota diz que tem uma turma de brasileiros que vai sempre lá, à noite, jantar. Mas naquele dia eles não foram! hehehehehehe.
Então eu encontrei meus amigos, peguei a mala e fui vagar mais uma vez...
Nas coincidências do mundo redondo, que gira em torno do sol e do seu próprio eixo, reencontro a garota da barraca de frutas tomando cerveja com a namorada num boteco legal. Paro, saudamamos ao encontro e enchemos a cara. Depois de muita merda dita e maldita, vou com as duas pra casa, durmo no sofá e acordo em um lugar com banheiro pela primeira vez em quatro dias!
E então já deixo a bolsa por lá e vou rodar pelos suburbios da imensa cidade. O metrô de lá vai para todos os lugares, além de conexão com os trens. E bastava você ter um ingresso de qualquer atividade olímpica do dia pra andar de graça. Então eu catava canhotos no chão perto da saída dos estádios, e rodava livremente por todo lugar.
Fui na casa do "inventor" do Jack Daniel´s. Lágrimas, emoção à flor da pele e algumas doses (Budweiser financiava o evento, então era a ÚNICA cerveja em TODA a cidade). Uma cerveja era U$4 e a dose de Jack era U$2,70!
Fui na casa do fundador da Coca-Cola. Mijei no jardim, cuspi no portão e lamentei ter sido reduzida a quantidade de cocaína da fórmula original (que nunca experimentei).
Dali parti para o paraíso do lugar: Little Five Points! Um bairro de skatistas e lojas super phodásticas (Junkman´s Daughter era a melhor de todas).
Comprei um casaco de couro coreano escamado, se desfazendo, mas a coisa mais linda que já tive.
Comprei um bong que é a cabeça vermelha do Diabo, em porcelana, e um cachimbo cujo recipiente era o crânio de uma caveira humana em miniatura (presente dado ao Marcel Portela)
Joguei um "altinho" local, feito com um saquinho de pano cheio de pequenas bilhas de ferro.
Tomamos Jack Daniel´s dentro de sacos de papel (Não pode expor consumo alcóolico em público), em frente ao Vortex Bar (a entrada é na boca de uma mega caveira! A foto acima)
Bêbado, feliz, cheio de ex-amigos (sabia que nunca mais os veria), voltei pra barraca das frutas, jantar e dormir...

VEJAM O BAIRRO LITTLE FIVE POINTS AQUI: http://littlefivepoints.net/

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