Quero dançar, nem sei se vale a pena...mas qualquer coisa em movimento sobre a ladainha de um balanço já é melhor que qualquer outra coisa.
Comecei dançando qualquer merda, com meus amigos da escola. Ficávamos na casa do Marcelo maluco, lá na Almirante Tamandaré, inventando coreografias sobre as músicas que mais gostávamos. Cada dia um interpretava o papel de coreógrafo da tchurmeca da meleca. Maluco era assim conhecido porque ele tinha um ratinho branco, daqueles de olhos vermelhos (puta que pariu), que adorava ficar brincando DENTRO da boca do sujeito.
Seu apê gigante, um por andar, nos permitia peripécias que depois aperfeiçoaríamos com a chegada dos inacreditáveis clipes do MJ, suas músicas alucinantes e nossa cada vez maior vontade de "se apresentar", como diria D. Iolanda.
Essa turma se desfez quando nos recaiu a seriedade do segundo grau e sua bazófia vestibulanda. Mas a vontade de se mexer nunca parou. Me considero um pé-de-valsa de primeira categoria, autodidata e autosuficiente (danço horas comigo mesmo, olhos fechados e o corpo a se embalar nos graves e volteios das pistas escuras). Como não tinha mais dança por perto, entrei no Kung Fu!
Mestre Alex Takahashi e seu fiel escudeiro Brás, na Rua Ipiranga, em uma garagem maluca, cheio de apetrechos de filmes de Bruce Lee - as madeiras que chutávamos, os sacos com bilhas de ferro de socávamos e a única porta, que não nos permitia fugir quando a porrada comia dos veteranos sobre nós.
Esse mestre, anos depois, se mostrou um completo demente desequilibrado - naquela época o considerávamos um meio demente desequilibrado - matando, a tiros, o dono do Clipper, por uma discussão idiota em dia de final de campeonato...
O Kung Fu é um solo! Você baila de acordo com o KATI, que é uma simulação prévia de ataques combinados contra você, de um ou mais oponentes (depende do seu nível de desempenho), em que você luta contra o vento.
Estilos como Garra-de-águia, Serpente-voadora, Tigre-rastejante etc. povoavam minha cabeça como coreografias chinesas que eu só via nos filmes antigos de porrada-spaguetti (tinha isso (i) ainda não achei o ponto de interrogação...caralho), que passavam ininterruptamente no Cine Rio Branco, hoje uma loja de departamentos no centro da cidade de Rio Branco, no Acre.
Um dia, cansado da coleção eterna de hematomas, escoriações e dores nos ossos, fui experimentar uma aula de JUDÔ! PRA QUÊ, NÉ (i)
Descobri o ANTI-BALÉ!!!
Muito instigante e intrigante. É um jogo de duplas, onde ninguém quer seguir o que o outro faz, o que geralmente ocasionaria sua projeção pelos ares, esborrachando-se no chão. Então começa o baile: eu vou pra lá e te arrasto, você não quer ir e me arrasta, agarrados pelos panos de mangas e golas, vamos girando em oposições e contrapontos, agonia e antagonia assimétrica e intencional, sem combinação prévia, até que alguém caia na "coreografia" do outro e se perca pelos caminhos do vento...
Isto tem sua passagem de solo também, onde a intimidade de contato chega a causar constrangimento a quem nunca viu e não entende e, de repente, vê aquilo, aquele rolo compressor de duas massas se enroscando, por cima, por baixo, entre, demente, até que sobre um pescoço ou um braço estirado pra ser apertado, torcido, esmagado, forçando assim que um dos parceiros desista do pé-de-valsa de minhocas.
Eu dancei uma ópera, profissionalmente.
Eu faço aula de balé clássico na faculdade Angel Viana, com a professora Lu Cao.
E a saudade dos palcos me levou a digitar essa merda toda.
Foto 1 - Léo Leite Jogando Flávio Canto, no treino da seleção brasileira de Judô em São Paulo, dia 25 de janeiro de 2010 (eu tirei a foto)
Foto 2 - olho de Lu e de Bê, que me vigiam e me seduzem, minha teacher do balé e seu gatíssimo (devidamente roubada do orkut, né)