NA SOMBRA...

NA SOMBRA...
Vem comigo?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Rato vira-lata

Tem uma frase muito boa do Raul Seixas que significa que é melhor ser burro que sofrer pelas coisas da vida, mais ou menos isso.
Tô fudido demais porque, além de ser burro, eu sofro pelas coisas da vida.
Da minha, de amigos, do vira-lata vagante da minha área, do ratinho da minha cozinha (mamita vai matá-lo envenenado, em breve).
Com isso, a porosidade de minha sensibilidade não repele a quantidade de absurdo que vem e passa. E vou eu a buscar pandemônio na filosofia, nas idéias alheias próximas, no álcool, nas drogas proibidas pelos homens da lei que mais gosto e que menos me custam a civilidade (é isso? sou burro...). Assim o fervilhão me deixa pastando na impotência do grito inútil. Se o grito, que logo me deixa rouco mas é um berrante, é inútil, imagina tudo o que não tento calado?
Tento não me aproximar muito da atualidade.
Deixo minhas lágrimas escorrendo pelos povos incas, pelos índios que povoavam o Rio de Janeiro e São Paulo, pelos Bundas, que deram nome brasileirinho às nádegas sulamericanas, pelos igapós e igarapés que singravam minha floresta querida, reduzida a cimento e ignorantes, bestializados, pelos dinossauros (queria um de estimação, mas a porra da chuva de meteoros fudeu com tudo). E choro. Sinto a perda da cultura, a dificuldade de aceitação do diferente, desconhecido, não alinhado. Da afinidade com o silêncio humano pra que a natureza possa nos contar tudo o que viu e verá, o simples silêncio respeitoso a quem, de fato, comanda toda a balbúrdia incompreensível desde os tempos em que antropomorfizamos o inantropomorfizável! (hein? Pode ser assim?).
Ainda há pouco tempo convivi com mortes naturais e outras premeditadas de pessoas ao redor. E choro. Por estar vivo.
Não tenho escolha. O suicídio é honroso demais pra mim, que sou quase um pulha. Me resta viver.
Vou me aninhar com o vira-lata da rua ou meu pequeno ratinho azarado.
Quem sabe aprendo alguma coisa de útil com eles? Porque ultimamente meus semelhantes só me ensinam o que não consigo aprender nem apreender, talvez por estupidez, talvez por inocência ou respeito aos velhos índios que foram dizimados por acreditar demais.
Vou voltar a subir em árvores. Era dali de cima que eu achava tudo mais bonito, sem contar que é onde estão as melhores frutas.
Vou subir em árvores. Pra que as formigas andem em mim com a intimidade de um metrô de Tóquio.
Subir e escutar as árvores traduzindo o vento.
Essa sim, uma linguagem universal...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Água


Roubaram a água.
Creio que já chorei por aqui sobre o desperdício dos mananciais da floresta encantada, mas ultimamente, como ando muito pela cidade, resolvi visitar os açudes e igarapés que fizeram minha infância subaquática, quase anfíbia.
SUMIRAM!
E o que restou se transformou num rastro de bosta!
Açudes inteiros aterrados e cimentados, áreas alagadiças transformadas em ruas (a Baixada da Habitasa todo ano recebe visitas do Rio Acre), igarapés que cortavam a cidade toda sumiram do mapa, sem deixar vestígios.
Alguns, como o velho CHico, resistem bravamente, virando depósito de lixo e esgoto. Apesar dos esforços hercúleos dos órgãos competentes, a ação humana invadindo e desmatando áreas de proteção permanente à beira desses leitos, acaba por transformar tudo em nada.
Há meses acompanho uma APP no Bairro Conquista. Em pouco mais de dois meses, quatro casas subiram em aterros irregulares às margens do pequeno igarapé que, como tantos outros, parece estar com os dias contados...
E o que nos sobra? CALOR!
Cimento.
Asfalto.
Sem árvores.
Sem água.
Sem frutas.
Sem peixes.
A cidade está se transformando num grande seringal, dependente de tudo o que venha de caminhão pro armazém do Seu Menino, lá dos sudestes do país.
Quando eu imaginei que entraria em um mercado pra comprar banana? Caju? Melancia?
Já pode sentar e chorar (mesmo sem ter lido nem gostar de Pau no Coelho?)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Escuridão.


21/10/2011
Quando tem mais pessoas nas igrejas que nas escolas, é porque tem alguma coisa muito errada na condução pública da coisa.
O domínio político e social histórico massificou (a ferro e fogo) a idéia de supremacia da fé cega (e da faca, bem amolada). Contando com os bilhões de anos do planeta, a audácia do calendário cristão beira a zombaria, o escárnio. E o medo, aliado à manutenção da ignorância e reducionismo da maioria das pessoas a um saco de inutilidades, perpetua a pressão para que a imobilização social seja regra, não exceção.
Em Montreal, Canadá, apesar da forte influência cristã, tirando-se os nomes de santos nas ruas, a grande maioria das igrejas encontram-se abandonadas, e sevem de referência negativa à cidade, pelo elevado nível de consciência dos cidadãos a respeito das atitudes e posturas oficiais dos líderes religiosos. Na Holanda praticamente não há templos regulares em funcionamento...
A função educacional do Estado é mascarada e pulverizada em uma grande manobra de descrédito, péssima formação dos professores (algumas disciplinas nem formam mais docentes para a rede – vide vestibulares para licenciatura em geografia e história, por exemplo), montagem de uma grande e cara equipe burocrática e dependente, que se caracteriza pela defesa do modelo, escolas precárias, alunos desmotivados e subestimados.
Pela simples razão de que a informação causa desconforto, o conhecimento leva ao questionamento, a formação à atitude. Cultura cospe na estrutura (Marcelo Nova e Raul Seixas sibilaram bem essa loa...) e chuta a bunda dos bundões.
A diminuição de espaço e aumento da informação livre causa constrangimento em algumas situações, mas a atual posição nacional de “prosperidade” causa mais um disfarce, um desequilíbrio: a sensação de sucesso econômico que, na verdade, é um simples aumento de capacidade de endividamento pessoal, e a grande febre mundial do consumo, causa mortis da dignidade humana, aplaca a vontade, ameniza a aventura, mata a verdade. E então o povo senta. E curte a burrice sem senti-la, abraça a idiotização criticando os que se assustam e gritam.
QUEM EDUCA AMA. Não tem frase melhor para definir meu desespero...

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

TCU (TUDO CUZÃO UNIFICADO)


Pois bem.
Pois mal.
E foi?
Nem te conto...
A Ana Arraes é a nova ministra do TCU! Eleita por voto secreto, no maior colégio de bandidos e desapegados ao país de existe.
Ela é filha do Miguel Arraes, sabe, daquele time que diz que "lutou" contra a ditadura, mas quando a dita ficava dura, sentavam em cima... tanto que eterniza a família sobre a desgraça pernambucana, porque o neto (filho de Ana, a Arraia) é o atual governador daquele lixo humano e geográfico, assim condenado e condecorado graças a anos sem fio de ações da famiglia Arraia, ops, Arraes).
"A riqueza cultural pernambucana contrasta com seu nível de desenvolvimento social, superior ao dos países menos avançados mas ainda abaixo da média brasileira. Embora tenha logrado notáveis avanços nas últimas décadas, reduzindo por exemplo a mortalidade infantil em quase 50% entre 1990 e 2005[7] e a taxa de analfabetismo (para 17,6% em 2009[19]), número considerável dos habitantes do estado ainda vive abaixo da linha da pobreza (16,1% da população com renda familiar inferior a R$ 70,00 per capita por mês em 2010)[20] e seu sistema de saúde pública ainda é precário.[21] Os baixos indicadores são mais presentes nas áreas rurais e em algumas partes do sertão do estado."
Uma das primeiras frases da puta velha lôka (ooopsss, desculpa, foi erro de digitação...) foi que "deus me ajude a tomar as decisões certas...", se referindo à sua já manifesta postura de NÃO interromper obras suspeitas de desvio de dinheiro público, pois "o prejuízo é maior" (pra quem, mesmo?)
Como em diversos casos pelo Brasil a fora, onde o sistema público de comunicação é uma concessão do governo, dada sempre a políticos locais e apadrinhados, o estado deve ser comandado pelo grupo Arraia, ops, Arraes, também na área de informação. É assim com aa famiglias Sarney/MA e ACM/BA, não deve diferir muito em PE.
Sendo assim,, mais um filho da puta com salário alvitante, trabalho insignificante e aposentadoria integral pra que o povinho bunda do PÁIS DOS TROUXAS carregue nas costas...
PNC da inércia!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

MEDA!


PÂNICA!
DESESPERA!
SACA CHEIA!
Cheguei na Floresta Encantada, Seringal Aquiry, Colocação Rio Branco, no velho oeste brazuca, e me deparei com uma cena parecida com a história do primeiro livro sobre Sir Sherlock Holmes, onde tem a descrição da romaria dos mórmons e a criação de Salt Lake City!
É proibido duvidar do poder divino.
É proibido fungar no cangote alheio.
É proibido ser normal.
É proibido querer por querer.
É proibido ter só pra desfazer.
É proibido não ser o que se deve ser.
É proibido dizer o que se pensa.
É proibido pensar o que se diz.
É proibido andar a pé.
É proibido chinelar o calcanhar na bunda rumo ao infinito.
É proibido falar que a merda fede.
É proibido ser feio.
É proibido dedo no cu (dos outros, eu acho...).
É proibido se jogar.
É proibido não ir aonde o povo vai.
É proibido achar que tem dois lados.
É proibido achar.
É proibido música feita entre os dentes.
É proibido queimar.
É proibido arder.
É proibido saber que tudo é uma bosta fantasiada de cocô!
Me divirto, mas às vezes, tenho MEDA!
PÂNICA!
DESESPERA!
SACA CHEIA!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Política das drogas - Francisco Bosco


A política das drogas, no Brasil, nos âmbitos legal e moral, é gravemente equivocada. No plano geral, a tentativa de repressão à produção e ao tráfico, somada à criminalização do consumidor (nesse último ponto houve algum avanço), levou ao crescimento brutal de um mercado ilegal com imenso dano à sociedade como um todo. No plano moral, uma mistura de hipocrisia e estigma induz ao contato com adroga (que se torna atraente sob a névoa do interdito) e impede a instauração de um debate claro, que possa convocar a perspectiva científica (mas também a literária, sociológica, filosófica...), a fim de iluminar a experiência das drogas sob todos os aspectos: por que seu uso se confundo com a história das civilizações, que danos as diferentes drogas causam à saúde, em que princípios se deve fundamentar uma política das drogas, que experiências políticas alternativas vêm se desenvolvendo em diversos lugares do mundo etc.
Foi contra esse estado estacionário e fracassado que se criou, em 2008, a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Demoicracia, uma iniciativa, entre outros, do ex-presidente FHC. Comclamo desde já todos os leitores a analisar o documento por ela redigido (www.drogasedemocracia.org), que apresenta ao debate públicoas conclusões a que seus estudos chegarampara que se possa estabelecer uma base para a adiscussão que finalmente deverá atingir o âmbito da política legal, alterando seu rumo. Conclamo igualmente todos a assistir ao documentário "Quebrando o tabu", dirigido por Fernando Grostein de Andrade, e que vem juntar-se aos esforços dessa comissão, expondo suas investigações e apresentando sua versão cinematográfica.
Todos sabemos, pelo exemplo de "Tropa de Elite" (1 e 2), a que nível excepcional de transformação de mentalidades chegou o ciema político no Brasil. É preciso não desperdiçar isso e aprveitar o movimento iniciado para levar ese pensamento à transformação efetiva, moral e legal, da realidade. Boa parte da nossa vida política oficial se passa num estágio pré-político de denúncias infindáveis de corrupção ou canalhismo esclarecido; mas isso não deve nos levar à desistência de experimentações políticas decisivas, sob a alegação de que não temos maturidade para tanto. Isso nos infantiliza e paralisa. É preciso que a sociedade civil pressione a política oficial na direção de uma vida política mais autêntica e propositiva.
Não sou afavor das drogas, a prion e sem qualquer ressalva, mas sou a favor de sua descriminalização. Em primeiro lugar, drogassão um problema de saúde pública, e não de ordem criminal. O princípio aqui é claro: qualquer cidadão pode ter o direito de fazer experiências de alteração de sua consciência, e deve ter o direito de configurar sua economia pulsional como bem entender, desde que esse direito não interfira, prejudicando-a de alguma maneira, na liberdade de outro cidadão.. A criminalização das droga atenta contra a liberdade fundamental do indivíduo ao tornar sua consciência e economia pulsional assuntos do Estado. Drogas são, antes de tudo, um problema de saúde privada. Estou de acordo quando se diz que são um problema de saúde pública porque se quer dizer, com isso, que ao Estado cabe o papel de educar, iluminar a sua experiência, bem como cuidar para que os danos à saúde dos consumidores sejam amenizados (regulando o consumo e a produção das drogas, fazendo diferenças entre elas, e dando acesso de tratamento aos dependentes).
Dito isso, repito que não sou a favor do uso das drogas. Mas é preciso entender por que se faz uso delas, que diferentes exepriências elas proporcionam etc. O efeito constitutivo de qualquer civilização é a neurose: vivemos todos sob imperativos morais e legais de restrição de nossos desejos. A realidade é feita de amarras firmes, em algumas civilizações mais ainda que em outras, mas, sempre, estamos lidando com pressões da realidade. As drogas são um fator que permite intervir nessa experiência da realidade, afrouxando, provisoriamente, suas amarras morais e liberando, com isso, uma carga pulsional do outro modo aprisionada. É o que faz, por exemplo, o álcool - desde que, repito, esse uso não acarrete, por irresponsabilidade, consequências danosas a outras pessoas (sou, por isso, a favor da Lei Seca no trânsito).
No meu entender, há dois paradigmas de drogas: as drogas da realidade e as droigas do real. Aquelas, como o álcool e a cocaína, atuam no sentido de transformar, por dentro, a experiência neurótica da realidade: suavizando-a, no caso do álcool, ou euforizando-a, no caso da triste cocaína. Já as drogas do real, como o ácido ou, para alguns, até a maconha, expandem a consciência até o ponto de levá-la a experimentar a realidade como uma ficção, permitindo um vislumbre do vazio, insto é, do real, que por trás dela (não) a sustenta. É uma experiência sublime e angustiosa, é a máxima sensibilidade e o Nada. Cabe ao cidadão o direito de viver ou recusar essas experiências.
É urgente desmoralizar o uso das drogas, para que se possa ter uma compreensão mais profunda e desassombrada sobre elas. Para isso, a perspectiva científica é fundamental, mas não deve ser exclusiva. A criminalização das drogas, tal como se dá hoje, produz o crime, lá onde ele, na grande maioria dos casos, não existiria. Chega de obscurantismo, chega de violência, chega de hipocrisia. É preciso ampliar, aprofundar o debate, e transformar a realidade.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

CHUVA

"Chove chuva, chove sem parar..." Sempre penso na vida e na purificação quando me desce tanta água na cabeça. O sincretismo religioso também aflora, e me vêm as divindades aquáticas e suas nuances. Mas a ordem do dia, ecológica, é a que mais choca, porque, segundo os "especialistas", estamos com os dias contados (nós, raça humana, porque esse planeta resiste a tudo, só muda a casca). Andando e reparando, sonho com o dia da vingança da água: o Largo do Machado era uma lagoa, assim como uma grande área do centro, próximo à 1º de Março e outros locais invadidos pelo progresso. O Aterro do Flamengo se incrimina pelo nome, e as antigas imagens da Lagoa Rodrigo de Freitas me fazem chorar (de ódio). "Oh chuva, peço que caia devagar..." Sempre imagino o mar e as chuvas vindo e se reestabelecendo, indeterminadamente. Aquela bacia em se transformou a praia de Copacabana, O sufoco da invasão sobre a margem do Arpoador e Praia do Diabo, as pistas de velocidade na Praia de Botafogo. Uma lagoa no Largo do Machado me deixaria mais feliz que se o Rio Carioca rompesse todas as suas amarras e jorrasse livre, límpido e fugaz do Cosme Velho até a Praia do Flamengo, de novo! "chove lá fora e aqui faz tanto frio..." Me remeto, entre ondas e banzeiros, ao desejo fluvial da Floresta Encantada! Ah se meu Seringal Aquiry tivesse sido adornado por pessoas sensatas, mantenedoras dos seus mananciais naturais de água doce e rica em alimentos. Tudo bem que minha querida Habitasa da infância, na Colocação Rio Branco, não existiria, mas, quer saber? Mil vezes ter morado no alto e caçado sapos e calangos naquele sítio de igarapés e igapós que ver, ano após ano, a agonia das águas podres de lixo invadirem as ruas das redondezas! E os igarapés que cortavam toda a cidade e foram reduzidos a pó? (não, não foram trocados por cocaína boliviana ou peruana, foram soterrados pelo asfalto que não pertence ao nosso meio amazônico! Nunca será!). E resta o discurso, às mergens do natimorto Rio Acre, de que se pensa a natureza por ali (só se for a natureza morta do dinheiro, que move os subterrâneos de campanhas, financiamentos, representação parlamentar e outras idiossincrasias). Que venaha a chuva de Noé! Pelo menos sobrarão os peixes pra nos comer as carnes e reproduzir a evolução... VIVA O TUCUNARÉ! (aaah uma caldeirada agora, com esse clima...)


NIETZSCHE 7.
O cristianismo é chamado de religião da compaixão. - A compaixão se encontra em oposição aos afetos tônicos que elevam a energia da disposição para viver: ela tem efeito depressivo. Perde-se a força quando se é compassivo. Através da compaixão, aumenta e se multilpica ainda mais a perda de força que, em si, o sofrimento já traz à vida (Em alemão, "compaixão" é Mitleiden, e "sofrimento", Leiden. "Afeto", pouco antes, é a nossa tradução para Affekt, termo que em alemão costuma ter uma conotação mais intensa, veemente (emoção, paixão) - também presente no português, mas significativamente atenuada pelas conotações mais comuns de "ternura" ou de "sentimento amoroso") O próprio sofrimento se torna contagioso através da compaixãoç sob determinadas circunstâncias, pode-se alcançar com ela uma perda total de vida e de energia vital que está numa proporção absurda com o quantuum (quantidade) da causa (o caso da morte do nazareno). Esse é o primeiro aspecto; mas há ainda um mais importante. Supondo-se que se meça a compaixão segundo o valor das reações que costuma produzir, seu caráter perigoso à vida aparece sob uma luz ainda mais clara. A compaixão se opõe de um modo geral à lei da evolução, que é a lei da seleção. Ela conserva o que está maduro para o soçobro, ela luta em favor dos deserdados e condeandos pela vida, ela dá à própria vida um aspecto sombrio e questionável através da abundância de malogrados de todo tipo que conserva vivos. Ousou-se chamar a compaixão de virtude (em toda moral nobre ela é considerada fraqueza); foi-se mais longe, fez-se dela a virtude, o solo e a fonte de todas as virtudes - todavia, que se tenha isso sempre em mente, a partir do ponto de vista de uma filosofia que era niilista, que inscreveu a negação da vida em seu brasão, Schopenhauer tinha razão de fazê-lo: a vida é negada pela compaixão, é tornada mais digna de negação - a compaixão é a prática do niilismo. Repito: esse instinto depressivo e contagioso se opõe àqueles instintos voltados à conservação e à elevação do valor da vida: tanto como multiplicador da desgraça quanto como conservador de tudo que é desgraçado, ele é um instrumento capital para a intensificação da décadence - a compaixão persuade ao nada!... Não se diz "o nada": em vez disso diz-se "o além"; ou "Deus"; ou "a vida verdadeira"; ou nirvana, salvação, bem-aventurança... Esa retórica inocente do âmbito da idiossincrasia moral-religiosa aparece de imediato muito menos inocente quando se compreende qual tendência aí se envolve no mantod e palavras sublimes: a tendência hostil à vida. Schopenhauer era hostil à vida: por isso a compaixão se tornoui uma virtude para ele... Aristóteles, como se sabe, via na compaixão um estado doentio e perigoso, do qual era bom dar conta, vez por outra, com um purgativo: ele entendia a tragédia como purgativo (Aristóteles, Poética, 1449b 27-28; 1435b 1ss). A partir do instinto da vida, seria realmente necessário procurar um meio de dar uma agulhada nessa acumulação doentia e perigosa de compaixão, como representada pelo caso de Schopenhauer (e, infelizmente, também de toda a nossa décadence literária e artística de São Petesburgo a Paris, de Tolstói a Wagner): para que ela estoure... Nada é mais malsão, em emkio à nossa malsã modernidade, que a compaixão cristã. Ser médico aí, ser impiedoso aí, manejar aí o bisturi - é o que cabe a nós, é a nossa espécie de amor à humanidade, assim nós somos filósofos, nós, os hiperbóreos!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

DÍVIDAS...


Como se faz para dever tanto quanto clubes de futebol, empresas multinacionais e empresários nacionais de grande porte? Bom, creio que "dever" eu até sei, e bem, mas não entendo como cresce tanto sem ser incomodado, sem a Receita Federal, o SPC, SERASA e demais joguetes do sistema aos seus pés...
Como?
Qual foi o esquema principal usado pelos políticos para falir os bancos estaduais?
Alguém, um dia na vida, vai pagar esse pato?

Nietzsche 6.
Foi um espetáculo doloroso, horripilante, que se abriu para mim: puxei a cortina que escondia a corrupção do homem. Em minha boca, essa palavra está protegida ao menos de uma suspeita: a de conter uma acusação moral contra o homem. Ela é pensada - gostaria de sublinhá-lo mais uma vez - sem moralina: e isso a tal ponto, que senti essa corrupção com mais intensidade exatamente lá onde até agora se aspirou do modo mais consciente à "virtude", à "divindade". Entendo a corrupção, já se percebe, no sentido de décadence: minha tese é a de que todos os valores em que a humanidade agora concentra a sua aspiração suprema são valores da décadence.
Chamo um animal, uma espécie, um indivíduo de corrompidos quando eles perdem seus instintos, quando escolhem, quando preferem o que lhes é prejudicial. Uma história dos "sentimentos superiores", dos "ideais da humanidade" - e é possível que eu tenha que narrá-la - também seria quase a explicação de por que o homem está tão corrompido.
Considero a prórpia vida como instinto de crescimento, de duração, de acumulação de forças, como instinto para o poder: onde falta a vontade de poder, ocorre declínio. Minha tese é a de que todos os valores supremos da humanidade carecem desa vontade - que sob os nomes mais sagrados há valores de declínio, valores niilistas no comando.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

ARMAS DE FOGO


Quando se vê, hoje em dia, a mesma merda de antes em relação a uso de armas de fogo por bandidos, psicopatas, malandros, manés, crianças e qualquer tipo de bosta humana, a lembrança do "referendo do desarmamento" diz só duas coisas: hipocrisia e dinheiro gasto à toa - e ganho por alguém ligado aos políticos da época, lógico!
Tudo que o governo quer enfiar pela sua goela abaixo é tratado como "urgente", entra na fila de julgamento do Congresso Nacional com o nome de MEDIDA PROVISÓRIA, arma azeitada por FHC pra deitar e rolar sobre a Constituição Federal, sem que os guardiões, do STF (gritaram ao mundo esse posto, ao votar CONTRA a Lei da Ficha Limpa), sequer dessem um peidinho de protesto!
POis bem. Já é sabido por todos os estudiosos e especialistas em violência do Brasil que mais de 80% das armas usadas nos crimes são produzidas e vendidas aqui mesmo!
É esse poderoso grupo, que lucra pelo mundo a fora mais que o tráfico de drogas, que manda no pedaço.
Nem se iludam.
Vem mais um show do palhaço por aí, com debates, mobilizações e gasto inútil de dinheiro público, tudo com muita hipocrisia.
Só pra deixar a poderosa indústria de armamento nacional do jeitinho que está hoje: faturando horrores, associada à indústria do medo, que te vende segurança (falsa).
Te fode.

Nietzsche 5.
Não se deve adornar e enfeitar o cristianismo; ele travou uma guerra de morte contra esse tipo superior de homem, ele proscreveu todos os instintos fundamentais desse tipo, ele destilou o mal, o homem mau, a partir desses instintos - o homem forte como o que há de tipicamente reprovável, o "réprobo". O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, vil e malogrado, ele fez um ideal a partir da contradição aos instintos de conservação da vida forte; ele corrompeu a própria razão das naturezas mais fortes espiritualmente quando ensinou a sentir os valores supremos da espiritualidade como pecaminosos, enganadores, como tentações. O exemplo mais deplorável - a corrpupção de Pascal, que acreditava na corrupção de sua razão através do pecado original, enquanto ela apenas fora corrompida pelo seu cristianismo!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

BOLSONAROS DE PLANTÃO!


Quanta babaquice sobre o que Bolsonaro disse!
Ele tem o direito de fazê-lo, e a responsabilidade de assumir as consequências.
Sempre disse que é da direita, se elegeu com discurso duríssimo, extremo. Elegeu o filho do mesmo jeito. Teve mais de 500 mil votos, representa alguém.
Você gosta deles? Não? Problema seu.
Os patrulheiros ideológicos esquecem da liberdade individual, talvez pela estrutura escrota que o país tem de representatividade, alienação, ignorância, isso tudo com uma "elite intelectual progressista, democrática, politicamente correta"...
ANTES de gritar contra o ditadorzinho, grite pelo resto do país! E os outros 800 políticos do Congresso Nacional que, apesar de não falar nada, roubam, saqueiam, destroem vidas a fio, assassinatos, tráfico de inflûncia e drogas, armas e sabe-se lá o que mais, grileiros, trabalho escravo, negociatas em todas as esferas dos três poderes, podridão sem fim, carnificina na ciranda financeira, transformando o Brasil num cassino cruel (Talvez por isso não permitam cassinos aqui, pra poderem jogar sozinhos e depois ir gastar nosso dinheiro nas mesas de apostas gringas...Pergunte se algum político brasileiro já foi em Las Vegas...).
Além disso, me indigna bastante também o silêncio sobre os evangélicos e demais religiosos.
Em qualquer canal de TV, aberta ou não, qualquer horário, eles estão lá! Curando AIDS, homossexualismo, retirando tumores com o poder da mente, fazendo nascer órgãos que foram extirpados (é! já vi um cara que tinha perdido o pulmão e, depois de orar bastante, quando fez outra radiografia, voilá, tinha nascido um pulmão, pela mão do nosso senhor jesus cristo, na benção de deus).
Com isso, arrecadam bilhões de dinheiros, sem nenhum controle pelos órgãos públicos, dos pobres, ignorantes, desesperados.
Elegem seus parlamentares, que alteram as leis de acordo com a necessidade dos bispos, pastores, apóstolos e demais tocados pela mão divina (como a lei que extingue o estudo de impacto ambiental e de perturbação de vizinhança para construção e funcionamento de templos).
Enfim!
A velha moda de ser teleguiado pela emoção popular. Grita contra o Bolsonaro aê que ele é filho da puta! Gritou? Agora cala boca e volta pra tua vidinha de merda até poder fazer barulho no próximo escândalo.

Nietzsche 4.
A humanidade não representa um desenvolvimento rumo ao melhor ou ao mais forte ou ao mais elevado como hoje se acredita. O "progresso" é meramente uma idéia moderna, ou seja, uma idéia errônea. O valor do europeu de hoje fica muito abaixo do valor do europeu da Renascença; não há qualuquer relação necessária entre evolução e elevação, intensificação, fortalecimento.
Em um outro sentido, há um êxito permanente de casos isolados, nos mais diferentes lugares da Terra e no interior das mais diferentes culturas, que representam de fato um tipo superior; algo que, comparado ao todo da humanidade, é uma espécie de super-homem.* Tais acasos felizes de grande êxito sempre foram possíveis, e talvez sempre o sejam. E mesmo gerações, tribos e povos inteiros podem, às vezes, represenar semelhante acerto.
* "Super-homem" ainda continua sendo a melhor tradução para Ubermensch, preferível, a nosso ver, a "além-do-homem", opção de Rubens Rodrigues Torres Filho, e mesmo à excelente "além-homem", de Donald Schuler, forjada numa analogia com "além-mar". Ainda que esta última seja especialmente interessante, é deveras questionável, pois perde-se a clara referência a um distanciamento vertical, que é indicada por uber (sobre, acima), tão recorrente e importante em Nietzsche.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

CONGRESSO NACIONAL


Bichos saiam do lixo!
Baratas me deixem ver suas patas!
Ratos entrem nos sapatos dos cidadãos civilizados!
Pulgas que habitam minhas rugas!
Oncinha pintada, zebrinha listrada, coelhinho peludo: VÃO SE FODER! Porque aqui, na face da Terra, só bicho escroto é que vai ter!
PAU NO CU DO CONGRESSO NACIONAL!
AQUILO ALI É UMA AFRONTA À DIGNIDADE DOS BRASILEIROS!
JOGATINA, MARACUTAIA, CASSINO DE VIDAS ALHEIAS...

Nietzsche 3.
O problema que com isso coloco não se refere qo que deve substituir a humanidade na sucessão dos seres (o homem é um final), mas ao tipo de home que se deve cultivar, se deve querer como sendo o de mais alto valor, mais digno de vida, mais seguro de futuro.
Esse tipo de alto valor já existiu com bastante frequência: mas como um acaso feliz, uma exceção, jamais como algo desejado. Pelo contrário, precisamente ele foi o mais temido, foi até agora quase o temível; - e foi por temor que se quis, se cultivou, se alcançou o tipo contrário: o animal doméstico, o animal de rebanho, o animal doente homem - o cristão...

sábado, 2 de abril de 2011

PACIÊNCIA


As privatizações FHCianas se fazem presente no cotidiano, da forma mais negativa possível!
Pelo setor elétrico, NUNCA imaginei que São Paulo sofreria o mesmo que minha querida Floresta Encantada: apagões diários, aleatórios, imprevisíveis e, pra variar, sem ninguém responder por isso. No Rio de Janeiro, as galerias da LIGHT são bombas-relógio que já mataram e destruíram pela cidade (últimas vítimas ontem à noite, em Copacabana). Além disso, foi constatado oficialmente que as empresas cobraram A MAIS nas contas caseiras durante SETE ANOS, e conseguiram o "perdão" de reembolso da ANEEL, apesar das promessas contrárias feitas pelo bandidaço Édson Lobão (que já tem um filho entranhado nos 'ESQUEMAS'), nosso querido ministro das minas e energia.
Pelo setor de transporte, Il Capo Garotinho (Imunizado pelo atual mandato parlamentar, apesar de ser réu condenado como chefe da quadrilha das milícias e polícia civil do estado, junto ao parceiro-capanga Álvaro Lins) conseguiu repassar ao seu melhor amiguinho e financiador de suas campanhas, dono da empresa de transporte 1001, a rota mais valiosa (Região dos Lagos) além do controle das barcas que fazem as travessias na Baía de Guanabara - A quantidade de embarcações quebradas e à deriva ultimamente me faz enfrentar a ponte (nos ônibus da 1001). O metrô RJ, desde hoje, é o mais caro do mundo, proporcionalmente em relação ao tamanho de sua malha de cobertura - 3,10 reais - e funciona mal e porcamente, além da equipe de seguranças que adora dar porrada nos outros...
Por essas e outras, vamos ao segundo capítulo do amado alemão:
2.
O que é bom? - Tudo o que eleva a sensação de poder, a vontade de poder, o próprio poder no homem.
O que é ruim? - Tudo o que provém da fraqueza.
O que é a felicidade? - A sensação de que o poder cresce, de que uma resistência é superada.
Não o contentamento, porém mais poder; acima de tudo não a paz, mas a guerra; não a virtude, mas a excelência (virtude no estilo da Renascença, virtù, virtude sem moralina).
Os fracos e os malogrados devem sucumbir: primeira tese de nosso amor à humanidade. E ainda devem ser ajudados nisso.
O que e mais danosos do que qualquer vício? - A compaixão ativa por todos os malogrosos e fracos - o cristianismo...
* Em alemão, "sem moralina" é moralinfrei. O termo "moralina" (Moralin) designa a supota "substância" da moral, e é uma das tantas contribuições zombeteiras de Nietzsche ao idioma alemão.
FOTO: Metrô de Montreal\CAN

sexta-feira, 1 de abril de 2011

VOLTEI


Cacete!
Deu uma doida aqui e eu não conseguia mais abrir essa merda!
Mas, apesar de toda minha inabilidade cibernética, consegui voltar...
Então, pra comemorar, vamos fazer uma série de 62 capítulos com o mestre Nietzsche, que cunhou a frase "o eterno retorno é o mais pesado dos fardos"
Pra vocês, gotas do "O ANTICRISTÃO - MALDIÇÃO CONTRA O CRISTIANISMO"
DIVIRTAM-SE 666
"Este livro se destina a pouquíssimos. Talvez ainda não viva nenhum deles. Quem sabe sejam os que compreendem meu Zaratustra: como eu poderia me confundir com aqueles a quem já hoje se dá ouvidos? - Só o depois de amanhã me pertence. Alguns nascem póstumos." 1888
1.
Olhemo-nos no rosto. Nós somos hiperbóreos - sabemos muito bem o quão à parte vivemos. "Nem por terra nem por mar encontrarás o caminho que leva aos hiperbóreos": Píndaro já sabia isso ao nosso respeito.* Além do norte, do gelo, da morte - nossa vida, nossa felicidade...
Nós descobrimos a felicidade, conhecemos o caminho, encontramos a saída de milênios inteiros de labirinto. Quem mais a encontrou? - Acaso o homem moderno? "Eu não sei entrar nem sair; eu sou tudo aquilo que não sabe entrar nem sair" - suspira o homem moderno... Dessa modernidade estávamos doentes - da paz preguiçosa, do comprmisso covarde, de toda a imundície virtuosa do sim e do não modernos. Essa tolerância e largeur** de coração, que tudo "perdoa" porque tudo "compreende", é siroco para nós. Antes viver no gelo do que entre virtudes modernas e outros ventos do sul!... Nós fomos valentes o bastante, não poupamos a nós nem aos outros: mas por muito tempo não soubemos o que fazer de nossa valentia. Tornamo-nos sombrios, chamaram-nos de fatalistas. Nosso destino - era a plenitude, a tensão, o represamento das forças. Ansiávamos por relâmpagos e atos, ficávamos o mais longe possível da felicidade dos fracotes, da "resignação"... Havia uma tempestade em nossa atmosfera, a natureza que somos escureceu - pois não havia caminho para nós. Fórmula de nossa felicidade: um sim, um não, uma linha reta, uma meta...
* Píticas, X, 29-30. Para os antigos gregos, os hiperbóreos eram um povo lendário que habitava uma região perpetuamente ensolarada na extremidade setentrional da Terra, além do vento norte (Bóreas).
** Largueza

domingo, 6 de fevereiro de 2011

BASEADO EM QUÊ? - HELENA ORTIZ - hipocrisia droga pesada (e estimulada) do dia a dia


"A opinião pública é um tirano invisível, intangível, onipresente; uma hidra de mil cabeças; a mais perigosa das bestas, porque composta de mediocridades individuais." - Helena Blavatsky
"...nenhuma política de drogas surtirá bons efeitos enquanto o tema estiver bloqueado por tabus e preconceitos que ignoram o conhecimento científico e menosprezam o respeito às liberdades individuais que as democracias dignas desse nome devem assegurar." - Paulo Vanucchi
- A polícia abusa, o traficante reage, o empresário sonega, o político mente? A culpa é do usuário.
- Só podem fumar aqueles que no seu uso buscam (e encontram) o prazer de sentir o eu essencial no convívio com as camadas etéreas, e quanto a isso cada um pense o que quiser.
- Todo o momento histórico de máxima autoridade sempre tem que pegar alguém para crucificar. Até o riso, um dia, foi perseguido. Lembram de Umberto Eco, "O Nome da Rosa"?
- Legalizar tudo, e já. Não ir aos poucos, como muitos sugerem, porque se houver uma proibição é nessa que estará o foco do tráfico e da corrupção.
- ...Coisa mais triste quando uma decisão nos obriga a prescindir de algo que a natureza criou e oferece para tantas coisas úteis, prazerosas e místicas.
- Não vejo a polícia chegar atirando em condomínios e edifícios de luxo, e isso não quer dizer que neles não existem traficantes. Por que nas favelas?
- E a polícia? Pobres moços imberbes que se inscreveram na corporação porque é necessário sobreviver.
- É preciso mudar a lei, antes que a guerra acabe com ela.
- ...todos sabem que o proibido produz curiosidade maior entre os jovens. Ao serem legalizadas as drogas, muito mais gente vai deixar de prestar atenção nelas.
- Terence MacKenna: " A cannabis dminui a potência do ego, modera o espírito de competição, provoca o questionamento da autoridade e reforça a noção de que os valores sociais têm um sentido relativo."
- Não compreendo que mesmo pagando tantos impostos eu não possa fazer o que quero da minha vidinha, a única que posso chamar de minha.
- LEI BESTA. POR QUE BESTA?
1. Não impede ninguém de fumar.
2. Obriga a repressão a matar cada vez mais, dando a aparência de que "o governo está ganhando a guerra."
3. Em sendo ilegal o uso, favorece a corrupção na polícia.
4. Em sendo ilegal, produz mais curiosidade na juventude.
5. Apreendida em grandes quantidades, apressa a produção, fazendo diminuir a qualidade do produto. (E quantas vezes a polícia se apossa do produto e o revende em benefício próprio?)
6. O Estado perde com isso. Primeiro, com os investimentos na repressão, segundo, porque deixa de ganhar com os impstos e taxas advindos da legalização.
7. E talvez o pior: com o tráfico gerenciado pelas quadrilhas lotadas nas comunidades pobres, os primiros a sofrer com isso são as crianças, porque são recrutadas cedo, poque recebem acenos de vida fácil, morte fácil. MAS A JUVENTUDE NÃO ACREDITA NA MORTE. ACREDITA SÓ NO SUCESSO.
- O leitor há de perguntar por que faço isso, a essas alturas da vida? Ora, estou com 62 anos, o mundo não melhorou, as relações entre as pessoas idem, as religiões ficaram mais intolerantes, o capitalismo mais agudo, e agora em queda livre. Se pensarmos numa alternativa, veremos que não existe.
- Querem mais segurança? É legalizar, prevenir e tratar, como se faz com álcool e cigarro. Ponto.
- Onde existe polícia e bandido existe corrupçãp...E os bandidos mesmo, aqueles que nascem com vocação, esses sempre existirão, pobres ou ricos. É um talento natural, digamos assim...Por que não reconhecer que a sociedade está totalmente viciada, e se é para um é para todos?
- ...o combate às drogas serve de escudo para o combate aos pobres, e a população clama por paz sem se dar conta de que assina uma aprovação à guerra.
- Fracassaram as soluções de segurança da mesma maneira que fracassaram as soluções para o meio ambiente. As respostas dos governos e das empresas são ineficazes para as questões mais dramáticas.
- ...não há tempo para reverter. As cabeças já foram uniformizadas pela fala inclemente da televisão, pelas bobagens gratuitas, pela brutalização do espírito, pela promiscuidade e pela corrupção.
- "Os que se curvam aos preconceitos do seu tempo agem como eunucos morais" (Matutali, escritor holandês).
- ...Os holandeses sustentam que o objetivo de "erradicar as drogas" é simplesmente irreal e que a dependência química deve ser tratada como um problmea de saúde pública e não como um caso de polícia.
- "...O resultado é a "vegetação vingadora" das quadrilhas de traficantes, dos massacres nas favelas, da superpopulação prisional, da ausência de alternativas de tratamento para os dependentes e da corrupção que atinge a Polícia e se espalha por todas as instâncias de poder...talvez, essa seja uma sociedade que precise mais da mentira do que da verdade. talvez a mentira seja, inclusive, nossa "droga" prediletas. A droga do poder, por excelência. Talvez." - Marcos Rolim

domingo, 30 de janeiro de 2011

MUSASHI - VOLUME II Era o caráter absoluto da espada que o obrigava a enfrentar tanta provação. A constatação o fez sentir que o mundo era árido...


- Pequenos segredos podem muitas vezes projetar sombras sobre uma amizade. Não esqueça.
- Afinal havia um limite para a vida do ser humano, ele nunca seria eterno como a natureza. Existia algo incomparavelmente maior que ele pairando solenemente sobra sua cabeça: e abaixo disso estava o ser humano.
- ...Que devia fazer um diminuto ser humano para fundir-se harmoniosamente na natureza que a continha, para respirar em sincronia com o universo.
- ...Nossa vida se assemelha um pouco ao do lendário dragão que se oculta no fundo de um poço à espera de uma oportunidade para alçar vôo rumo à vastidão infinita.
- ...Bem alimentado e cuidado, um gato ronrona no colo de seu dono, mas se for abandonado no meio da montanha torna-se um predador: seus olhos faíscam no escuro e ele não hesita em se alimentar de seres vivos ou mortos.
- A visão nem de longe evocava a imagem idealizada de prostituta dos versos de certo poeta: "Quem tua pele macia haverá de tocar/ Rubra flor de perdição?"
- ...era um samurai peregrino de destino mais incerto que o da nuvem ou da gota de água, um homem que na quase religiosa busca a que se devotava fazia de pedras o leito, e de árvores o teto, um ser inatingível...
- "O senso de justiça é o nosso esqueleto, o povo é a nossa carne, integridade e cavalheirismo são a nossa pele."
- Se os homens soubessem conviver em paz, o mundo seria um paraíso. infelizmente, porém, todo ser humano nasce com duas naturezas: uma santa e outra diabólica. Um passo em falso, e o mundo se transforma num inferno. Para que isso não aconteça, é preciso inibir a ação da metade diabólica, dando o devido valor à cortesia e valorizando a dignidade.
- Era espantoso o que a civilização provocava nas pessoas.
- ...quando alguém queria comer um prato de macarrão sarraceno, tinha de semear o trigo na primavera, contemplar a floração durante todo o verão, colher o fruto no fim do outono e moer o trigo nas frias noites de inverno para enfim fazer o macarrão.
- "Originariamente a espada japonesa não foi desenvolvida para retalhar seres humanos, nem para ferí-los. Pelo contrário, foi idealizada como instrumento para pacificar o império, protegê-lo do mal e dele expulsar os demônios. Ao mesmo tempo a espada destina-se a aprimorar o caminho dos homens, e deve ser levada à cintura dos que estão no comando como contínua advertência no sentido de manter a própria compostura e de vigiar a si mesmos para não incorrer em erros. Ela é a alma do samurai, e o seu polidor tem de realizar o trabalho sem perder de vista tais princípios.
- ...Aumentando a sensação de sonho, a névoa cobriu tudo com seu manto, e as minúsculas gotas de orvalho que teimavam em acumular-se nas pontas dos seus círios faziam om que as coisas ao seu redor assumissem cambiantes tonalidades do arco-íris.
- ...a esgrima era fundamentalmente a arte de vencer sempre e sobreviver em quaisquer circunstâncias.
- ...O sangue ontem impregnado com o sermão do filho ingrato jorrava hoje a golfadas pelo corte aberto em seu corpo.
- ...atordoado como se tivesse andando suspenso entre os limites da iluminação e das paixões impuras e se visse de súbito chutado de volta à terra.
- ...Queria ir-me do mesmo modo que a flor se vai, derramando em profusão o pólen sobre a terra.
- A ameixeira era frondosa e abrigava taturanas, que rastejavam com suas maravilhosas coberturas de pêlos coloridos. Havia ainda besouros e minúsculas pererecas aderidas às costas das folhas, pequenas borboletas adormecidas e moscardos dançando em torno dos frutos.
- Um clã era comparável à muralha, e o pretendente ao cargo, à rocha. A rocha podia então ser grande e resistente, da melhor qualidade, mas tornava-se inútil se não se encaixava entre as já existentes na muralha.
Lamentavelmente, no mundo existiam infinitas pedras de excelente qualidade, mas que, desajustadas, permaneceriam inúteis, enterradas nas campinas.
- ...Inhames e boas-noites plantados junto à cerca lançavam gavinhas até o pé do poço, e as flores brancas começaram a agitar-se levemente, uma a uma, tocadas pela brisa da tarde.
- Foi então que um vulto, até então oculto nas sombras do barranco infestado de pernilongos, pareceu escolher esse momento para entrar em ação e, aproximou-se rastejando como um sapo do alpendre às escuras.
- ...já tinha escapado para perto de uma parede como um peixe que se esquiva de um golpe desferido sobre a superfície da água e surge nadando placidamente em outro local.
- A espada acabara de ser polida. Kojiro observou seu adversário como um homem faminto contemplaria um banquete.
- Onde quer que vá o homem sempre encontra o céu e um pedaço de terra; onde quer que os encontre, ali aprende a viver.
- ...O homem tinha tendências naturais que precisavam ser estimuladas e outras que, ao contrário, deviam ser inibidas. deixadas à vontade, certas qualidades indesejáveis vicejavam, enquanto outras, positivas, estagnavam.
- Despercebido, o sereno encharcava a campina. A lua crescente lembrando fina sobrancelha havia-se afastado da floresta de cedros, e de cada vez que uma lufada percorria as copas das árvores, todos os grilos emudeciam. As flores-de-campo, quase imperceptíveis durante o dia, ondulavam então suas vistosas corolas à breve aragem, dançando talvez ao compasso de uma divina melodia só por elas ouvida.
- Maldito! - tornou a berrar. Retalhou os estores e em seguida, a videira do lado de fora da casa, e ainda insatisfeito, contemplou a campina em busca dos brilhantes olhos. Finalmente descobriu-os num canto do céu na forma de estrela azulada, enorme e solitária.
- ...De um lado existe uma ciência militar baseada no raciocínio lógico, e do outro, o caminho da espada, essencialmente espiritual. A ciência militar espera que determinada provocação produza determinada resposta. Já o caminho da espada é um estado de espírito que possibilita detectar provocação antes mesmo que ela seja percebida por olhos ou pele, e a evitar a área de perigo.
- Como suave manto, a cordialidade de todos os homens presentes na sala envolveu o vulto pobremente vestido de Musashi.
- ...Uma mulher podia escolher seu próprio destino, mas o homem era sempre considerado responsável pelo resultado dessa escolha.
- ...Pois então fique sabendo: dinheiro é tudo. basta tê-lo para que até homens de minha espécie sejam louvados e considerados os mais caridosos do mundo, e sejam insistentemente convidados a aceitar cargos inúteis, mesmo que os recuse.
- Alguém já tinha dito: " É mais fácil ultrapassar que ser ultrapassado."
- ...visão mono-no-ware, a sensibilidade para perceber a frágil beleza das coisas terrenas e de comover-se com sua transitoriedade. Um bushi sem o senso mono-no-ware é uma campina árida, sem flores nem luar.
- NO céu, de azul profundo, que lembrava um lago, a Via Láctea era uma faixa de prata fumegante.
- O homem nasce com duas mãos, mas ao esgrimir, usa-as como se fossem uma.
- O hábito torna natural o antinatural, e o homem se esquece de questionar-se.
- ...sua movimentação tinha sido tão natural quanto de um javali a despertar do sono no meio de arbustos.
- De cima do barranco, os animais rolaram pedregulhos, balançaram-se em cipós, desceram à beira do caminho, correram sobre pontes, ocultaram-se debaixo dela, saltaram para o vale.
- A névoa perseguia seus vultos ágeis, brincava com eles. A cena era fantástica, fazia até imaginar que um ser celestial poderia descer das alturas naquele instante e lhes dizer na linguagem santa, compreensível até a animais: - Que fazem perdidos em brincadeiras neste confinado espaço entre montanhas e vales, seres a quem dei a vida? As nuvens estão por partir! Assumam-lhes a forma, Apressem-se!
- Talvez então as nuvens se transformassem em macacos, e os macacos em nuvens que subiriam em flocos ao céu e desapareceriam.
À luz do luar, a névoa refletia e duplicava os vultos dos macacos, que pareciam agora brincar aos pares.
Um cão ladrou nesse instante, e seu latido repercutiu longe no vale.
No momento seguinte, os macacos agitaram-se como folhas mortas varridas pelo vento e desapareceram num átimo.
- A cada passo, a noite recuava.
- ...A emoção tomou conta do pequeno coração e o emudeceu. Tinha a sensação de que seu sangue e o sol partilhavam a mesma vermelhidão.
- Moitas baixas de bambu começavam a forçar os passos para dentro da trilha. Heras de folhas vermelhas, à espera do inverno, chamavam a atenção. no meio do bosque, a noite ainda se demorava, a claridade sendo visível apenas além das copas das árvores.
- Sangue esguichando, carne rasgando, ossos quebrando, eram muitos os sons no ar. Dois ou três gritos agonizantes ecoaram de permeio. Homens tombavam à direita e à esquerda como árvores secas, todos eles com profundos cortes. E nas mãos de Musashi havia agora duas espadas.
- Aos poucos, sentiu o corpo inteiro enrijecendo-se numa reação fisiológica, involuntária. Pele e músculos tinham entrado instintivamente na luta contra a morte, não havia tempo para suar. Cabelos eriçavam-se, poros arrepiavam-se.
- O Cão latia cada vez mais alto: atiçado pelo cheiro de sangue que o vento lhe trazia havia já algum tempo, o animal estava prestes a enlouquecer, seus latidos ecoando sinistramente pelas montanhas.
- O mundo era assim mesmo, repleto ee gente perigosa levando aparentemente uma vida honesta. Por outro lado, a vida seria um inferno se todos vivessem desconfiando de todos.
- ...Não há diferenças notáveis entre os íntimos de uma eminente personalidade e os de um homem comum. A única diferença consiste no modo como essas duas personalidades diferentes se apresentam para além desse conteúdo humano e passional que lhes é comum.
- ...Como poderia alguém dirigir palavras de consolo superficiais a um homem que, abandonado à sebenta casca humana das paixões, já caminhava pela silenciosa campina da vida onde os sinos vespertinos soavam anunciando o fim do dia?
- ...Mas a vida é feita desses momentos em que a sorte parece dar as costas aos que mais precisam dela...
- ...o verdadeiro significado dos acontecimentos que marcam uma vida só podem ser avaliados com precisão ao fim dela.
- ...Não existe nada mais temível que um ignorante que julga saber tudo e anda por todos os lados disposto a mudar o rumo do mundo.
- ...nem que mil anos se passem, um homem não consegue apagar da face da terra as marcas de suas ações, sejam elas boas ou más. Elas são como manchas de tinta negra sobre o papel branco.
- Santo cruel, que repelia o pecador , santo temível, que não estendia a mão salvadora a quem se arrependia dos seus pecados...
- ...Cruze as pernas, acalme-se. Apenas uma fina pálpebra separa a vida da morte, nada há de tão temível nela. Não chore.
- ...O que realmente lhe interessava era a felicidade ou infelicidade do povo, esses minúsculos seres comuns que rastejavam sobre a face da terra. este sim, era um assunto com que se preocupava constantemente.
- ...Cada vez que o corpo latejava, sentia aumentar a vontade de desafiar o mundo. Sua vontade era uma flor, misteriosa e fragrante, que brotara em seu caráter distorcido pelo infortúnio, e agora, depois de muitos anos, enfim começava a desabrochar.
- ...No caminho percorrido pelo javali, havia restado o traço branco de névoa rastejante que parecia ter sido criado pelo bastão de um mágico invisível.
- As lágrimas tinham um gosto doce quando se sentia assim. Se um ente sobre-humano, uma estrela ou um espírito, lhe perguntasse: "Por que chora, menino?", ele responderia, sem parar de chorar: - Como posso saber? Se soubesse não estaria chorando.
- A alegria de se contemplarem mutuamente uma vez mais sãos e salvos em torno do clarão vivo de um braseiro, era um raro prazer. A vida o concede apenas a pessoas submetidas a duras provações.
- "- Francos elogios ou censuras mesquinhas, nada tem muita importância neste mundo fugaz. O simples olhar não é capaz de revelar se determinado fato ocorre para nosso bem ou nosso mal."
- ...considerava que todos eles viviam em mundo muito distante do seu, muito embora percebesse que no fim, todos os caminhos levavam ao mesmo lugar.
- ...como empregar a essência da esgrima para governar o país, como utilizar a iluminação que nos vem dela para planejar a paz de um povo. Esgrima e humanidade, esgrima e caminho búdico, esgrima e artes - se todos os caminhos puderem ser vistos como um só - a essência do caminho da espada e a estadística também coindiciriam.
- ...Antes de qualquer coisa, tenho de me dedicar com humildade a aprender. Antes de pensar em governar o mundo, tenho de aprender o mundo.
- ...apressou-se a seguir caminho, puxando o cavalo pela rédea: o animal tinha sido emprestado a seu mestre, e não a ele. Ninguém estava ali para conferir, mas ele jamais o cavalgaria.
- "Mesmo as feras/ Que falar não sabem/ São comoventes/ No seu amor à prole."
- ...Estava pálida como flor de pereira, triste em sua alvura.
- A alegria foi tão grande que o menino sentiu o peito pesando de emoção e perdeu a palavra.
- As plantas desabrochavam na beira da estrada, a paisagem adquiria o suave colorido da primavera e ele era a personificação da paz nesse ambiente. Em seu peito, porém, a tormenta rugia uma vez mais.
- O peregrino parecia não ter ouvidos. Somente seus olhos chispavam, como se tentassem envolver em labaredas o adversário. Os dedos dos pés, calçados em sandálias típicas dos peregrinos, pareciam ter vida própria e aproximavam-se como centopéias rastejando sobre a terra.
- "Ser rounin não é andar a esmo, pois andar a esmo é simplesmente ser um nômade. O verdadeiro rounin é íntegro e dotado de firme propósito, e carrega no peito a tristeza de sua condição nômade. O verdadeiro ronin não busca fama e riqueza, não se deixa atrair pelo poder; na carreira pública, não tenta usar o poder político para proveito próprio; o particular nunca entra em questão quando a justiça é envolvida; é distante, livre e transparente como nuvem branca, mas sua ação é rápída como o desabar de um aguaceiro; encontra conforto na pobreza, não perde tempo lamentando insucessos..."
- ...Não há nada mais triste, para um homem, do que a fama superando-lhe a capacidade.
- ...Se possível quero ter uma vida longa e tranquila, longe de cenas sangrentas e de histórias de guerras, cujos rumores gostaria que chegassem a mim apenas como o uivar distante do vento em pinheirais.
- "-Remova da mente de todos os pensamentos e verá que mesmo o fogo pode ser refrescante"
- "-Quando se vence um obstáculo difícil, experimenta-se em seguida a satisfação que supera todo o sofrimento. Na vida, sofrimentos e prazeres são ondas que se intercalam a todo momento. E se o homem procura espertamente navegar apenas nas ondas do prazer, permanecendo indolente, perderá o sentido da vida, alegrias ou prazeres deixarão de existir para ele.
- ...Quanta gente não existe neste mundo que morrerá como mísero inseto, sem saber o verdadeiro sabor de um bocejo.
- Por vezes devastado por paixões e transformado em demônio faminto, em outras satisfeito e orgulhoso da própria solidão, como a límpida lua que surge por trás dos picos, Musashi se via como presa de ímpetos ora luminosos ora sombrios. Seu espírito era excessivamente apaixonado, rancoroso e inquieto.
- A angústia dos acometidos pelo mal da inércia só pode compreender quem já experimentou alguma vez. Ócio é algo com que todo ser humano sonha. O mal da inércia, entretanto, fica longe da agradável sensação de descanso e paz que o ócio proporciona: quem por ele é acometido não consegue agir, por mais que se empenhe.
- E ali estava ele, um morto-vivo sem alma, flutuando no meio da escura brisa noturna, todas as crenças quase perdidas.
- Afiado pelo perigo que ameaça o sono sem tréguas, ensinando por intermédio de inimigos que buscam incessantemente uma brecha para matar, o caminho da espada é ainda o instrumento capaz de dar vida às pessoas, governar a sociedade, proporcionar a quem o trilha a grande paz da suprema iluminação; é enfim, e sua essência, a expressão do sonho de compartilhar com todas as pessoas a alegria de viver eternamente em paz.
- ...O raciocínio, não só as artes marciais, mas em quase tudo, deve ser composto na calma do cotidiano. Na prática, as situações de perigo exigem resoluções instantâneas. Aqui, os raciocínios não têm valor. Vale a intuição.
- ...Mas a intuição em indivíduos inteligentes e adestrados supera o raciocínio, atinge num piscar de olhos seu ápice e apreende com acerto a melhor solução para a emergência.
- ...Sua pele era escura e lustrosa como a casca de certos insetos, e por baixo das sobrancelhas seus olhos encovados eram duas esferas brilhantes.
- ...Advinhações baseadas em estratégias baratas eram perigosas nessa situação. Ele tinha de enfrentar as circunstâncias e, no momento certo, tomar instantaneamente a resolução. Essa era a única estratégia possível.
- "_ Duas espadas equivalem a uma espada, uma espada a duas. Duas são as mãos, mas o corpo é um só. Do mesmo modo, um único raciocínio se aplica a tudo: muitos são os estilos, mas a lógica por trás deles em última análise é a mesma.
- Na troca de cumprimentos tão banais escondiam-se um mundo de emoções.
- - ...Ergueu o olhar para o rosto do mestre zen-budista como um viajante perdido no meio de uma noite escura se voltaria para contemplar a lua que de súbito irrompe por trás de pesadas nuvens.
- Horai mu-ichibutsu - "Nada existe, desde o princípio." E se nada existe, nada há também a que o homem se apegar com tanta tenacidade. Expressa o estado de espírito de uma pessoa que se libertou de tudo.
- ...Comparado aos milhares de anos do mundo, uma existência de 60 ou 70 anos não era mais que um piscar de olhos. E nada havia mais valioso que conhecer nesse curto espaço de tempo uma pessoa de valor.
- ...Passou a mão pela pele do braço e sentiu-a áspera como a casca de um pinheiro. Do mesmo modo sentiu também o próprio coração.
- Sua dúvida era algo muito grande, que englobava todas as questões. Por outro lado, visto pelo prisma cósmico, podia ser algo tão minúsculo quanto uma semente de papoula.
- "Buscai o tronco, não vos enganeis
Colhendo folhas, perseguindo galhos"

- "Dez anos passei peregrinando
Dos quais hoje escarneço, e a mim mesmo:
Vestes rotas, sombreiro despedaçado,
Às portas do zen bati,
Quando as leis de Buda são essencialmente tão simples!
Dizem elas: Coma o arroz, beba o chá vista a roupa."

- Lua cheia, círculo perfeito, podia ser a própria imagem da lâmina, ou de um espírito percorrendo os caminhos do mundo.
- ...O auge da juventude já se fora, e Otsu, pobre flor solitária a estiolar, caminhava por caminhos desconhecidos, evitando os olhares dos viajantes com quem cruzava. E de onde estaria ela contemplando nesse outono a mesma lua que Musashi vira de cima da montanha?
- Sabe muito bem que quem quer ver um rouxinol, tem de procurá-lo alguns pontos além do lugar onde o ouviu trinando, não sabe? Você, ao contrário, segue sempre atrás do trinado!
- ...Era capaz de aceitar com uma reverência a admiração de pessoas esclarecidas, mas temia a frívola popularidade, em cuja onda não queria embarcar.
- ...A vitória, todavia, nem sempre é de quem se empenha mais, assim como a derrota nem sempre é do arrogante. O imponderável, algo além das forças humanas, tem parte nesse jogo. isto é normal num duelo e faz parte do cotidiano de um guerreiro.
- ...Mestre Musashi sabe que é homem comum e por isso se empenha incessantemente em polir suas habilidades. A agonia porque passa nesse processo só ele sabe. E quando, em determinado momento, essa habilidade alcançada com tanto custo explode em cores, o povo logo diz que a pessoa tem aptidão natural. Aliás, é a desculpa que os insolentes dão para justificar a própria incapacidade.
- "É claro que podes te adestrar num templo, mas o mais difícil é fazê-lo no mundo. Gente existe que repudia tudo que é sujo e conspurcado e se abriga no templo em busca de pureza. Entretanto, verdadeiramente se adestra aquele que convive com a mentira, a impureza, a dúvida e a competição, enfim, com todos os tipos de tentação, e não se deixa macular".
- ...Sua silhueta, naturalmente delicada, dia-a-dia tornava-se mais frágil, e a beleza se tornava tão apurada que chegava a entristecer as pessoas que a viam.
- ...As nuvens que até há pouco incendiavam o céu apresentavam agora o tom negro-azulado de uma lâmina forjada e fria.
- A água tinha vida, vida eterna, mas não forma. E enquanto o homem continuasse preso à forma, não alcançava a vida eterna. Só depois de perder a forma é que a teria, ou não.
- E nos momentos em que o corpo se esquecia de tudo, nada mais restava em sua mente além da nuvem e do mar.
- Dizer que dardejavam era pouco. Aqueles olhos pareciam ímãs, atraíam inexoravelmente. Profundos como o mar, arrastavam com tamanha força que provocavam no adversário o medo de perder a vida.
- Mas as preces, lágrimas ou votos dessas pessoas de nada adiantavam para os dois homens engolfados nessa luta de vida ou morte. Tampouco havia para eles sorte, ou ajuda divina. O que havia era apenas o vasto céu azul, justo e imparcial.
- ...manter somente o espírito sereno em conformidade com o universo no meio desse turbilhão era mais dicícil que conservar intacta a serena imagem da lua refletida na superfície de um lago varrido pela tempestade.
- Ele jazia de bruços a dez passos de distância. Com uma das faces contra a relva, empunhava ainda o cabo da espada com tenacidade. no rosto, porém, não havia traços de sofrimento. Nele se via que tinha lutado com todas as suas forças e estava satisfeito com o seu desempenho. A mesma expressão desprovida de arrependimento ou pesar costuma estar presente nos rostos dos que tombam depois de lutar com bravura.
- Enquanto viver, amor e ódio farão parte do ser humano.
- O mundo é um contínuo marulhar.
Pequenos peixes cantam e dançam, nadam espertamente ao sabor das ondas que vêm e vão. Quem no entanto é capaz de saber o que se passa nas recônditas profundezas desse mar sem fim?
Quem algum dia já mediu sua exata profundidade?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

SÍRIO-LIBANÊS É O CARALHO!


Ontem fui brincar de brasileiro!
Tenho a sorte de me cuidar acima da média (apesar de todos os estragos provenientes da vida mundana e vadia), ter uma genética privilegiada - todos os meus parentes passaram dos oitenta anos, sendo que a maioria ainda vaga pelo mundo - e contar com amigos médicos para pequenos casos.
Nunca estive doente com a necessidade hospitalar batendo à minha porta.
Pois ontem, com um pequeno problema no pé esquerdo, que me impossibilitava de pisar no chão e ter um apoio equilibrado, fui ao hospital Rocha Maia, em Botafogo, para atendimento de ortopedista.
- NÃO TEM. SÓ NO MIGUEL COUTO E SOUZA AGUIAR, me disse com candura a "mocinha" da portaria.
Pra quem não conhece a geografia carioca, a cidade é IMENSA, e só dois hospitais contam com atendimento ortopédico, sendo um no cu e outro na boca da cidade...
Me aprochego ao Miguel Couto, e sou recebido com uma fila de triagem: uma enfermeira quase educada perguntava impacientemente às pessoas, do lado de fora do hospital, na calçada, sob um belo sol de quase 40 graus, qual era o problema.
- meus olhos!
- minha cabeça.
- estou me sentindo mal! meu coração tá falseando!
- meu ouvido dói.
- num sei...
E a todos vinham frases robóticas: não tem atendimento real, no papel (frisava bem ela) tem, mas não tem, entende? A emergência é só até meio-dia (nem pensar passar mal depois do almoço...), Tá reclamando? vai na UPA ou no Souza Aguiar! E por aí seguia a lista de desencontros...
Depois da fila externa, tinha a de cadastro, num rodízio de "dança das cadeiras" surreal (como quase tudo ali dentro): as filas de cadeiras eram ocupadas e, como o papel da máquina de senha tinha acabado, você sentava na última cadeira vaga da última coluna (eram 5) e quando a pessoa da primeira cadeira da primeira coluna levantava pra fazer o cadastro na recepção, todos levantavam e ocupavam o lugar ao lado direito. Matei as saudades das brincadeiras do jardim de infância, não sem antes sentir muita dor no pé fudido toda vez que levantava...
Ao conseguir entrar, nova fila, na sala de atendimento. Composta de duas mesas, com dois médicos em cada, não tinha maca, cadeira ou qualquer outro tipo de suporte ou apoio aos pacientes. Contando que eram problemas ortopédicos, uma pequena piada de bom gosto, não? Um médico em cada canto das mesas, sendo o que me atendeu (cujo nome tentei memorizar mas escapou, talvez pelo ódio implacável) despojado de todo e qualquer contato físico ou visual com o meu problema. Aí parecia atendimento de primeiro mundo: durou menos de um minuto, talvez. Após perguntas que meu cachorro faria, fui encaminhado ao Raio-X... outra fila!
Após voltar com a chapa, outro médico me consultou, sendo o primeiro alheio a qualquer dúvida ou interesse. Essa meteu uma luva e apertou com força aquela área arrocheada e inchada, típica de equimoses e hematomas, pra perguntar depois do meu grito se era ali que doía... mais uma vez lembrei do meu cachorro!!
Perguntou se eu bebia muita cerveja e comia churrasco, o que me deu o primeiro sorriso do dia, pois é praticamente minha dieta da vida toda!!! Ela acertou!!! E me disse que talvez pudesse ter uma suspeita, mas que não iria me indicar pra fazer o exame de sangue ali, que eu procurasse uma clínica e fizesse testes de quantidade de proteínas e ácidos no meu organismo. Passou duas injeções (dor e inflamação) e me mandou ao ambulatório... outra fila!! Com o pé doendo pra caralho, tomei uma injeção na bunda e outra no braço, e minhas opções de conforto do dia acabaram...
Ao voltar pela terceira vez ao "consulório" da ortopedia, dotôra me indicou um remédio, pra, caso o exame de sangue que eu talvez faça talvez indique que a suspeita dela tava certa, eu possa tomar!
Não vou contar as cenas que vi dentro do hospital por respeito a vocês, meus fiéis cinco leitores, mas acordo hoje com o ex-vice-presidente José Alencar tratado como herói nas capas de jornais, recebido pelo ex-parceiro e pela futura sócia, por sobreviver por 10 anos aos tumores que o corroem como um bote velho enferrujado no fundo do mar.
Tratado a água com ouro e banhado em cântaro de leite de cabra com rosas no hospital Sírio-Libanês, o queridinho dos políticos brasileiros, se acha um sobrevivente, um herói... VAI PRO SOUZA AGUIAR, SEU FILHO DA PUTA! ENTRA NA FILA DO ROCHA MAIA PRA SABER DEPOIS DE ALGUMAS HORAS QUE NÃO TEM O ATENDIMENTO QUE VOCÊ PRECISA!! VAI PRA FILA DO MIGUEL COUTO, NA CALÇADA, SOB SOL DE 40 GRAUS! VAI... HERÓI DE MERDA! FILHO DA PUTA!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

MUSASHI 1a parte - UM HOMEM EMPUNHANDO UMA ESPADA PODE NÃO IMPRESSIONAR MUITO. MAS UM HOMEM POSSUÍDO PELA ESPADA É ATERRORIZANTE.


ROMANCE ÉPICO BASEADO DIRETAMENTE NA HISTÓRIA JAPONESA NARRA UM PERÍODO DA VIDA DO MAIS FAMOSO SAMURAI DO JAPÃO, QUE VIVEU PRESUMIVELMENTE ENTRE 1584 E 1645. O INÍCIO É ANTOLÓGICO: MUSASHI RECUPERA OS SENTIDS EM MEIO A PILHAS DE CADÁVERES DO LADO DOS VENCIDOS NA FAMOSA BATALHA DE SEKIGAHARA.
DIVIRTAM-SE!

E depois de tudo, céu e terra aí estão, como se nada tivesse acontecido. A esta altura, a vida e as ações de um homem têm o peso de uma folha seca no meio da ventania...ora, que vá tudo pro inferno!
...não havia nuvens no céu e a lua fulgurava, parecendo fixar irada os seres na terra, inspirando até mesmo certo temor.
Viera ao mundo trazendo no sangue certo primitivismo ancestral, puro e selvagem, até agora intocado pela luz do saber, em estado bruto desde o nascimento.
De acordo com o budismo, mulheres são a encarnação do diabo, seres demoníacos, mensageiras do inferno...
...case-se com o que é verdadeiro. isto significa que você não deve correr atrás de ilusões para que não lhe aconteça de acabar carregando no ventre o fruto de uma relação enganosa...
- Estou me dirigindo aos ricos, apenas. Aliviá-los de seu dinheiro é praticar a virtude das virtudes.
Era uma tarde de primavera silenciosa e ar estagnado. A terra inteira - mata e solo - arfava como uma jovem mulher.
...o mal de um samurai é ser incapaz de avaliar as consequências dos seus atos: aí reside o verdadeiro defeito do bushi.
...não é a idade que estabelece a real diferença entre os homens: o que conta é a qualidade desses homens e o aprimnoramento dessa qualidade.
É desse modo que reagem ao poder. Quanto mais simples o povo, mais temem a autoridade.
...Ao se elevar aguda a melodia, experimentava a alma arrebatada subir ao espaço, brincar entre nuvens, ou então, vozes da terra e ecos do céu compunham novamente uma triste melodia, a canção do vento a sussurrar nos pinheirais lamentando a inconstância das coisas mundanas.
Dizia-se que a música tinha o poder de comover até mesmo o diabo.
...É preciso sentir raiva, muita raiva, para que verdadeiramente venham à tona a verdadeira força e o caráter de uma pessoa.
...A indignação de um homem deve ser desprovida de interesses pessoais, devotada à causa pública.
...Um homem não pode lutar com as mãos limpas contra um tigre, é claro. Mas um tigre é sempre um tigre, um animal inferior ao homem, não esqueça.
...o homem, o verdadeiro bravo, teme o que tem de ser temido, poupa e resguarda a vida - esta pérola preciosa - e procura morrer por uma causa digna.
...A coragem de um homem difere da coragem de um animal selvagem: a coragem do bravo nada tem a ver com a temeridade do rufião.
Aquele que conhece a si mesmo e ao inimigo
Vence - ou seja, não se arrisca;
Aquele que conhece céu e terra
vence - ou seja, realiza.

A água é submissa, mas tudo conquista. A água extingue o fogo ou, diante de uma provável derrota, escapa como vapor e se refaz. A água carrega a terra macia, ou quando se defronta com rochedos, procura um caminho ao redor. A água corrói o ferro até que ele se desintegra em poeira; satura tanto a atmosfera que leva à morte o vento. A água dá lugar aos obstáculos com aparente humildade, pois nenhuma força pode impedí-la de seguir seu curso traçado para o mar. A água conquista pela submissão; jamais ataca, mas sempre ganha a última batalha (Tao Cheng de Nan Yeo, estudioso taoísta do século XI).
No mundo em contínua transição,
Cinquenta anos e uma vida
São meros sonho ou ilusão.
(Oda Nobunaga)

"A mim, Musashi, obscuro e ignorante, submetei à provação e fazei de mim o melhor espadachim da face da terra; ou senão, deixai-me morrer."
...haviam visto Musashi saltar e elevar-se no ar mais de dois metros, atingindo com a agilidade de um gato o topo do muro ocidental do templo e, ato contínuo, desaparecer.
A vida de um guerreiro tem início a cada amanhecer, mas nada garante sua continuidade até o anoitecer.
A brisa da primavera tocou de maneira suave os cabelos de suas têmporas, acariciante como uma mão feminina...
...A deusa Morte parecia espreitar por seus olhos, convidando com um brilho gelado: - Venha! Quem é o primeiro?
...A cada volteio, uma névoa de sangue brotava da ponta de sua espada, espalhando sobre a relva fragmentos de cérebros, dedos e braços brancos que lembravam grossos nabos.
...Ébrios de sangue, suas mentes se toldavam.
...A verdadeira aprendizagem consiste em polir o espírito, mais que as técnicas marciais.
"A rã que mora num poço não sabe como o mar é grande."
...arte marcial não como um simples jogo de técnica e força, mas como instrumento para governar um país.
...Frio e calor extremo não são água e fogo: pura e simplesmente, são a mesma coisa.
...a orla espumante das ondas que corriam pela areia lembrando infinita sucessão de pequenas rosas brancas murmurantes. Esquecido do inverno, o sol brilhava na areia da praia impregnada de maresia.
..as sombras dos pinheiros se agitavam impassíveis, apenas reproduzindo o marulhar distante das ondas. Alheio à crueldade humana, um pássaro chilreava alegremente em algum lugar.
As folhas secas dos juncos à beira-rio brilhavam como lâminas de espadas ao luar.
Não era coragem, era ato inconsciente de um indivíduo que havia perdido a noção do medo. Este era o tipo de ocasião em que palavras eram desnecessárias...
A fuga atiça no homem o instinto predatório.
Espada e corpo não formavam ainda uma unidade. Irritava-o perceber em si essa espécie de deformação: sua habilidade no manejo da espada progredia, mas corpo e espírito ficavam para trás.
Difícil era encontrar um homem. O mundo abundava de seres humanos, mas custoso era achar entre eles um homem verdadeiro.
"Não posso perder tempo teorizando. A esgrima não é lógica, nem a vida uma teoria: elas têm de ser praticadas, vividas!"
...Vencer, vencer sempre até o fim da vida que lhe fora reservada e deixar vigorosas marcas de sua passagem pelo mundo. Só assim diriam que vivera em toda a plenitude a vida de um guerreiro.
Passo a passo continuou a galgar, sempre imagionando pisar a cabeça de gente que vinha considerando superior a ele nos últimos tempos. A montanha e ele já constituíam um único ser. A montanha por perto se espantava por se ver tão firmemente agarrada.
Na fria manhã de inverno, as árvores nuas do bosque sagrado gemiam ao vento e o som era quase sobrenatural.
...todos nós tendemos a esquecer a importância de certos valores: quem, depois de adulto, se lembra por exemplo que deve seu crescimento ao leite materno?
...Das agonias experimentadas por um ser humano durante a vida, nenhuma é mais exasperante, depressiva e ao mesmo tempo tão sem remédio que a de procurar alguém em vão.
...Arrogância e artes marciais andavam sempre de mãos dadas e eram insuportáveis em qualquer circunstância.
...À semelhança de um inseto que oculto sob uma folha tenta perceber os mistérios do tempo, Musashi tinha agora os nervos aguçados e espalhados por todo o corpo, captando sinais.
-É que, quando ando por estradas desertas, sinto como se tudo ao redor me pertencesse e eu estivesse percorrendo meus domínios.
...Os anos podiam se passar longe da pessoa amada, mas o amor alimentava-se de lembranças e notícias distantes e encarregava-se de alongar o fio da saudade, nele se enrolando e crescendo cada vez mais.
"A matéria é vã! Tudo é vaidade nesse mundo!" (N.R. No original, Shikizokuzeku - expressão que significa: 'toda matéria é nada.' A matéria pode assumir infinitas formas, mas qual é a sua verdadeira natureza? Nada.)
Excitado, esqueceu por completo a pose de homem experiente e, despindo a pele humana, revelou a besta sob ela.
...A melodia anunciava aos quatro ventos que o desejo continua a existir como um elemento latente, fogo fátuo a irromper de vez em quando na vida do homem até que ele repouse para sempre em seu túmulo.
...Tinha de progredir muito, forjar o corpo e espírito o tempo todo para alcançar um dia o ponto de não precisar mais arrepender-se de suas ações.
...um vulto triste e friorento lembrando um pássaro sem penas vagando no inverno.
Nos caminhos da vida, cada passo tem sua sutil importância.
Só mentes guerreiras mais evoluídas são capazes de sentir tristeza após uma vitória.
...Um orgulho selvagem costuma surgir no olhar do mais despreparado guerreiro no instante em que entra em duelo.
Nimguém percebe com clareza o cheiro do próprio corpo.
"...quando sinto que o universo e eu perfazemos uma unidade, ou melhor, quando perco a própria noção de sentir alguma coisa, nesse exato instante minha espada terá golpeado o inimigo certeiramente..."
...Chá é o fortificante da alma: nada melhor que o chá pra fortalecer o espírito. E eu acredito que a ação tem origem na inação.
"Caminhos... A essência da arte... Todas as coisas assumem idênticas formas quando atingem a excelência"...
...do lado de fora o sol poente incendiava o céu e avermelhava a estrada, cada movimento das cortinas da entrada deixando entrever à distância silhuetas de corvos voejando como fagulhas negras...
O mundo com sua pequenez vivia a atormentá-lo...
Mulheres comandam com um simples olhar. Tocados por esse tipo de olhar, os homens, vêem-se repentinamente desembolsando vultosas quantias ou bancando heróis. (PÁGINA 666)
..."Se um cão uiva para a lua, centenas logo o acompanharão", demonstrando a tendência, tanto canina quanto humana, de tumultuar por nada.
...Não há beleza que resista à morte: depois de morta, mesmo a mais linda das mulheres não passa de um monte de ossos.
A imbecilidade sempre leva vantagem sobre a sabedoria. Essa superioridade evidencia-se sobretudo quando o ignorante ignora por completo o conhecimento do sábio. Não há como ministrar conhecimentos a um tolo que se orgulha da própria tolice.
...esqueça todas as misérias e sujeiras do mundo e deixe-se envolver, nem que seja por uma hora ou metade de uma noite num ambiente de beleza ilusória, abandone lá todas as asuas preocupações. É para isso que servem esses lugares.
Para quem espera, o tempo passa com lentidão exasperante, quase insuportável.
...A vitória é como a lua refletida num lago: tentar agarrá-la, confiando excessivamente em sua própria sabedoria e força, significava quase sempre afogar-se nas águas e perder a vida.
Mas a neve tinha ritmo próprio, como uma melodia, e vinha do alto ora presto, impelida pelo vento, ora andante, redemoinhando, ora lento, dançando no ar como plumas de ganso.
...Pessoas havia que davam flores uma vida inteira, mas quantas, depois de mortas, seriam capazes de se transformar em lenha perfumada, como as peônias?
Um sorriso gelado escapou pelos dentes brancos e atingiu os rostos dos que o cercavam como um bafejo capaz de contrair-lhes os poros do corpo inteiro.
Dizem que o período mais importante e difícil, em todos os empreendimentos, é o inicial. No caso da vida, porém, o mais difícil é o final, o da despedida. Pois é a partir daí que se estabelece o valor ou a duração de uma existência, daí se sabe se ela havia sido fugaz, como espuma na areia, ou um raio luminoso no céu da humanidade.
"...Eu a amo. Tempos houve em que não pude passar um dia sequer sem pensar em você. Não sabe o quanto me torturei, com vontade de abandonar tudo para apenas viver e acabar meus dias em sua companhia. E teria abandonado de verdade, não fosse por outra coisa que amo, mais que você: a espada."
"...Ninguém me conhece melhor do que eu mesmo. Não sou nem herói nem gênio. Sei apenas que gosto um pouco mais da espada do que de você. Não sou capaz de morrer de amor, mas estou pronto a morrer pela espada, a qualquer momento."
"O inimigo externo pode até ser derrotado, mas não há como derrotar o interno."
...Não era fácil aprender a morrer: o preparo para ir-se do mundo a qualquer momento de um modo tranquilo, digno e viril, rápido como um breve suspiro, nunca era obtido por completo, por mais que se treinasse...
...Um samurai não deve depender do poder divino, nem se orgulhar de ser humano. Não deve negar a existência da divindade, mas nela não deve se amparar.
...fugaz como a sombra de um pássaro deslizando num campo riscado por estrias verdes...
Seu corpo se movia obedecendo apenas ao comando do espírito. Aquele ser que todos viam era ilusório.
Uma aterrorizante energia consumia sua alma e seu corpo. Musashi deixara de existir fisicamente, era apenas uma vida, uma chama.