NA SOMBRA...

NA SOMBRA...
Vem comigo?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ROLAND BARTHES


Incidente: etmologicamente, "aquilo que cai sobre alguma coisa". Nestas anotacoes e fragmentos de diário, Roland Barthes experimenta uma forma breve análoga ao haicai japones ou as "epifanias" de Joyce.

"Considero que o haicai é uma espécie de Incidente, de pequena prega, uma fenda insignificante numa grande superfície vazia. O haicai nao deseja agarrar nada, no entanto, há como que uma dobra sensual, o assentimento feliz a lampejos do real, a inflexoes afetivas. A consequencia rigorosa, mas também o que constitui a especialidade e a dificuldade do Haicai, da Epifania, do Incidente, é o constrangimento do nao-comentário. Extrema dificuldade (ou coragem): nao dar o sentido, um sentido; privada de todo comentário, a futilidade do INcidente se poe a nu, e assumir a futilidade é quase heróico." (R.B., A preparacao do romance)

Essas viagens longas, onde o tempo "é o tempo" (nocao definida em Zyon, do Neuromancer, de W. Gibbons), a formidável vaga no espaco te permite a reflexao e a inflexao. E entre um voo e outro pelos mares de nuvens européias, acabei de ler "Incidentes" (Roland Barthes).

Tive o privilégio de conhecer seu trabalho através de Ana C. (aah, meu doce amor, sempre voce, o sorriso mais belo e as bochechas mais gostosas que uma moca pode ter). Pois Ana me introduziu (esquisito verbo em relacao a um homossexual...eheheh) ao mundo de R.B. pelo magnífico "Fragmentos de um discurso amoroso". Primoroso.

Ele é culto, denso, charmoso e seco (o livro e o homem), e este Incidentes me deixou mais apaixonado ainda, e apreensivo, pois tem narrativa cronológica na última parte, que termina seis dias antes do meu aniversário de nove anos. Como eu torcia a cada página por seus escritos no "meu dia".


17 de setembro de 1979

Ontem, domingo, Olivier G. veio almocar comigo; para esperá-lo, recebe-lo, tinha tido todo o cuidado que geralmente demonstra que estou enamorado. Mas, já no almoco, sua timidez ou distancia me intimidava; nenhuma euforia de relacao, longe disso. Pedi-lhe que viesse ao meu lado, na cama, durante a sesta; ele veio muito gentilmente, sentou-se na beirada, leu um livro de figuras; seu corpo estava muito longe, se eu estendia o braco para ele, nao se mexia, fechado: nenhuma complacencia; aliás, logo se foi para o outro comodo. Fui tomado por uma espécie de desespero, tinha vontade de chorar. Via com evidencia que eu tinha de desistir dos rapazes, porque nao havia desejo deles por mim, e porque sou ou muito escrupuloso ou muito desajeitado para impor o meu; que isso era um fato incontornável, verificado por todas as minhas tentativas de flerte, que daí eu ter uma vida triste, que, finalmente, me entedio, e que eu preciso tirar esse interesse, ou essa esperanca, da minha vida. (Se tomo um a um os meus amigos - fora aqueles que nao sao jovens -, é cada vez um fracasso: A., R., J.-L. P., Saul T., Michel D. - R. L., limitado demais, B. M. e B. H., sem desejo etc.) Só me restarao os gigolos. (Mas que farei entao durante as minhas saídas? Noto sempre os jovens, desejando imediatamente, neles, ficar apaixonado por eles. Qual será para ,mim o espetáculo do mundo?) - Toquei um pouco de piano para O., a pedido dele, sabendo já que eu tinha desistido dele; ele tinha olhos muito bonitos, e rosto suave, abrandado pelos longos cabelos: um ser delicado, mas inacessível e enigmático, ao mesmo tempo meigo e distante. Depois mandei-o embora, dizendo que eu tinha de trabalhar, sabendo que estava acabado, e que além dele alguma coisa tinha acabado: o amor de um rapaz.

p.s.: desculpem a falta de sinais...estou em um computador europeu e nao sei mexer nessa merda!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

BUDA & PESTE




Segundo a Wikipédia:


"Budapeste é a capital e maior cidade da Hungria, sexta da União Européia. Localiza-se às margens do Danúbio...foi fundada em 17 de novembro de 1873 com a fusão das cidades de Buda e Ôbudsa, na margem direita do Danúbio, e Peste, do lado esquerdo. Seus habitantes chamam-se budapestinos."


Segundo Chico Buarque:


"húngaro é a única língua no mundo que o Diabo respeita"


Segundo euzinho:


DUCARALHO!


Que cidade linda...adoro estes espaços onde a história está tatuada nas pedras, no chão, no ar...velha, fria, dura! Andando nas ruas a cabeça vai lá onde a história não se contava, nem o tempo, nem a morte. Tudo faz sentido, a configuração geográfica, os contornos, as sombras, a água gelada do Danúbio (verde).


As muralhas onde sangue escorreu e lavou a rua, as torres onde a visão garantia o alimento e a sobrevivência frágil.


Amei...venham...andem...vejam...sintam...Danúbio majestoso...Budapeste, minha rainha...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

EU TE AMO


Adoro essa frase.

Falo bastante, inclusive, sempre pautado naquela velha idéia de que pode ser a última vez que vejo aquela pessoa viva...ou eu, né (i) CARALHO CADÊ MEU PONTO DE INTERROGAÇÃO (i)

E aí veem as formulações sobre como e por quê! Como amo (i) Por que amo (i) Será que eu tenho um jeito meio estúpido de ser e de dizer coisas que podem magoar e ofender (i) Será que sou o miguxo carinhoso e confidente de algum filho da puta (i)

Pensei muito nisso nos dois últimos dias que passei com meu filho e senti diferenças brutais nas sensações de amar as pessoas ao meu redor. Tinha ele, minha irmã, minha mãe, a outra irmã, minha muié e uns amiguitos mais chegados. E quando juntou essa turma toda, me peguei olhando em volta e classificando a parada toda! Classificação pra lá de torta e sem rumo...

mas da forma que fosse, sempre terminava na consciente afirmação interna de um belo e simples EU TE AMO.

E tem gente que economiza...alguns bem próximos, inclusive. Outros precisam de um leve empurrão: empurram goela abaixo uns litros de álcool ou um punhado de drogas, aí saem amando invertebradamente qualquer coisa. E se chegar a mim, fico honrado, dou aquele abraço meio saindo e digo o velho e bom EU TAMBÉM!

Fulanos acham que dizer isto é uma coisa séria demais. Demais é não amar ninguém. Não dizer nada, ficar se guardando. Como dizem os chineses: tá dentro, põe pra fora. Peida, arrota, tira meleca, bate punheta, caga gostoso, e diz EU TE AMO, cacete!
A pessoa que mais me emociona e que merece incontáveis gritos ao vento de EU TE AMO é meu bom e velho pai! Ele é um dos poucos que sempre me responde eu também, e que enche meu coração de ternura e meus olhos de lágrimas...
Saudades do bom velhinho.