NA SOMBRA...

NA SOMBRA...
Vem comigo?

domingo, 19 de dezembro de 2010

domingo, 12 de dezembro de 2010

NUMBERFÓR


Ao chegar ao restaurante, encontrei com a turma de brasileiros que jantavam lá, vez por outra quase sempre.
E que festa, né? Cidade lotada, milhares de pessoas de todo o mundo, mas quando os brasileiros se encontram é uma zona dukarái!
Pelas voltas que o mundo deu, pelas voltas que o mundo dá, como canta meu Mestre Camisa, o grupo era grande e animadíssimo, e havia um baixinho em particular: Hamilton. E guess what? Já havia treinado com o meu professor, na minha academia, e estava sozinho num apê grande em um hotel ao lado do aeroporto e resolvemos dividir as despesas do quarto - eu pagaria um terço do valor das diárias! Big Daddy é seu apelido, somos grandes amigos até hoje e sempre nos encontramos nos eventos pelo mundo a fora (essa porra é junto ou separado?)
Com casa e banheiro, restava aplacar a adrenalina. Meu pupilo se apresentaria no grande palco no dia seguinte e eu simplesmente não consegui dormir. Fiquei deitado, no escuro, em silêncio, e meus batimentos cardíacos não diminuíam de 125 por minuto, até o sol raiar.
Como eu não tinha credencial nem ingresso, comecei a usar o sangue brazuca: cheguei no ginásio às 6h30 da manhã e me apresentei como parte do grupo que estaria ali atuando em breve, mas que havia esquecido no alojamento um aparelho muito importante e funcional. Mostrei o relógio de marcar frequencia cardíaca, como funcionava e pra que serviria naquele momento. Com isso (e meu uniforme genérico, da Uruguaiana) fui autorizado a entrar no evento ANTES das portas se abrirem. Andei, respirei, fotografei, amei, sentei e suspirei.
De repente aparece o moço que me deixou entrar acompanhado do supervisor. Tomando um esporro clássico e categórico, em função do pacote que eu carregava na mão, que poderia perfeitamente ser uma bomba etc. etc. etc. etc. Tente pedir desculpas pelo rapaz mas tomei um fica quieto lindo, irrecusável. E a permissão de continuar lá, pois já estava mesmo, sendo que não poderia entrar na área reservada, teria que fazer um bilhete e o material seria entregue por ele. Imaginando a surpresa dos meus pares, escrevei um bilhete engraçaralho pra cadinho e mandei a caixinha. E me deliciei depois colocando os patrícios pra dentro, com a velha fraude de sair com a credencial de alguém, cheio de canhotos de confirmação de entrada no bolso, e geral voltando comigo pra dentro do estádio. Graças a estas peripécias, fiquei conhecido como o cara que burlou TODOS os dias a segurança da até então considerada mais segura de todas as edições do evento. Humildemente aceitava todas as cervejas pagas em reconhecimento.
Com o sucesso dos garotos, formamos um segundo grupo de festeiros, que após os eventos saía em busca de muita música boa, cerveja gelada e diversão na House of Blues montada especialmente para a ocasião (http://www.houseofblues.com/). Assistimos John Mayal, Lord John e Tina Turner. 3 dias de paraíso, utilizando a mesma fraude do evento: comprávamos um bilhete rachado por todos, tinha uma entrada pelo subsolo, que era uma lan house gigantesca, através de uma longa escada, com banheiros embaixo. Após chegar ao topo da escada, o canhoto era solto preso a um chiclete, e o outro elemento o pegava embaixo e subia e assim sucessivamente.
Um dos dias do evento nos comprovou que a segurança era realmente superficial e fantasiosa: estávamos no show do Cypress Hill, na pracinha, mas a galera reclamava porque estávamos em pé, dançando e pulando como bons loucos fãs da banda. decidimos ir embora pra um night club indicado por amigos locais e, ao chegarmos lá, já estava passando na tv do bar a bomba que havia explodido na torre de iluminação após o show, ferindo alguns e matando um rapaz. UFA! demos mais sorte que a van da Rede bandeirantes, que foi tomada de assalto, levaram TUDO dos caras, até os pneus do veículo. Só sobrou a carcaça e os caras da Tv assutados comos e estivessem no Brasil... ehehehheheheheheehhehehe
GOSTARIA DE AGRADECER AO EXÉRCITO AMERICANO PELOS POSTOS DE ÁGUA MINERAL BEM GELADA ESPALHADOS PELA CIDADE...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Memórias 3


Ao dar uma voltinha nos arredores do anel olímpico descubro que a diária mais barata era num apart do Donald Trump (o cara é dono de quase toda a cidade), que custava 300 dólares. Por ter pago 30 na coreana biruta, senti ali que eu estava FUDIDO!
Resolvi andar. Comprei um mapa e saí vagando aleatoriamente pela cidade. O problema era o peso da minha bagagem, além do tamanho. Sempre achei que meu almanque do Huguinho, Zezinho e Luisinho me seria útil algum dia da vida. Na verdade já havia usado muito dele nos acampamentos selvagens que fazia às margens do Rio Preto, na Serra de Itatiaia, ali pelas bandas da Maromba, nos idos dos anos 1980 e poucos. Mas testaria agora na civilização. Passei o primeiro dia todo andando, tirando fotos e fazendo reconhecimento do anel e seu entorno, espaço considerado o mais seguro de todos à época. Quando caiu a noite, percebi que não havia outra solução: dormir na rua! E vaguei de banco em banco até o sol aparecer e não me permitir mais relaxar (lá é quente pra caralho). Disse "de banco em banco" porque os guardas não permitiam dormir na rua. Então eu me aconchegava em algum lugar, vinha um puto e me acordava, mandando sair dali, mas não dava nenhuma opção viável.
Já bem cedo voltava por uma rua antiga atrás de uma lanchonete pé-de-chinelo que havia visto, quando escuto alguém gritar meu nome! Égua! Não é possível! Mas era! Meus amigos de SP que andavam por lá haviam alugado um carro. Que beleza. Abraços efusivos e muita conversa jogada fora, guardei minha bagagem no carro e marcamos encontro à noite, antes deles partirem (estavam hospedados em Macon/Georgia) para que eu a pegasse de novo.
Minha missão naquele dia também seria andar e fotografar.
Ao final da tarde, minha vida saudável me salvou: parei numa barraca de frutas pra almoçar e conversei com a dona, contando minha história de homeless. E então ela me aponta uma garçonete, no restaurante atrás da barraca, brasileira! OLHA! Nós já invadimos o mundo (achei brasileiro já em cada lugar...). A garota diz que tem uma turma de brasileiros que vai sempre lá, à noite, jantar. Mas naquele dia eles não foram! hehehehehehe.
Então eu encontrei meus amigos, peguei a mala e fui vagar mais uma vez...
Nas coincidências do mundo redondo, que gira em torno do sol e do seu próprio eixo, reencontro a garota da barraca de frutas tomando cerveja com a namorada num boteco legal. Paro, saudamamos ao encontro e enchemos a cara. Depois de muita merda dita e maldita, vou com as duas pra casa, durmo no sofá e acordo em um lugar com banheiro pela primeira vez em quatro dias!
E então já deixo a bolsa por lá e vou rodar pelos suburbios da imensa cidade. O metrô de lá vai para todos os lugares, além de conexão com os trens. E bastava você ter um ingresso de qualquer atividade olímpica do dia pra andar de graça. Então eu catava canhotos no chão perto da saída dos estádios, e rodava livremente por todo lugar.
Fui na casa do "inventor" do Jack Daniel´s. Lágrimas, emoção à flor da pele e algumas doses (Budweiser financiava o evento, então era a ÚNICA cerveja em TODA a cidade). Uma cerveja era U$4 e a dose de Jack era U$2,70!
Fui na casa do fundador da Coca-Cola. Mijei no jardim, cuspi no portão e lamentei ter sido reduzida a quantidade de cocaína da fórmula original (que nunca experimentei).
Dali parti para o paraíso do lugar: Little Five Points! Um bairro de skatistas e lojas super phodásticas (Junkman´s Daughter era a melhor de todas).
Comprei um casaco de couro coreano escamado, se desfazendo, mas a coisa mais linda que já tive.
Comprei um bong que é a cabeça vermelha do Diabo, em porcelana, e um cachimbo cujo recipiente era o crânio de uma caveira humana em miniatura (presente dado ao Marcel Portela)
Joguei um "altinho" local, feito com um saquinho de pano cheio de pequenas bilhas de ferro.
Tomamos Jack Daniel´s dentro de sacos de papel (Não pode expor consumo alcóolico em público), em frente ao Vortex Bar (a entrada é na boca de uma mega caveira! A foto acima)
Bêbado, feliz, cheio de ex-amigos (sabia que nunca mais os veria), voltei pra barraca das frutas, jantar e dormir...

VEJAM O BAIRRO LITTLE FIVE POINTS AQUI: http://littlefivepoints.net/

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

MEMÓRIAS 2...


Chegada a Atlanta (de novo)
Saí de ônibus de Macon/Georgia (tem outra Macon lá, então eles sempre citam assim) e cheguei em Atlanta à noite. Aí sim tive a dimensão do negócio: a cidade é enorme! É uma São Paulo afrodescendente... (assim como a nossa é nordestina).
Após caminhar zanzando pela rodoviária, achei umas vans do lado de fora e peguei uma, com o pedido de ir pro hotel perto do "anel olímpico" mais seguro/barato que o cara conhecesse. Entrou uma galera na van, ele foi despejando todos, até que sobrou eu e a dupla da condução. Nesse momento eu gelei. Sozinho numa cidade desconhecida, o inglês dos caras era todo de gírias locais, já tínhamos rodado até o inferno e nada. De repente meu guia entra numa highway, roda bagarái e joga pro estacionamento (vazio e às escuras) de um Wallmart! Ali selei meu beijo com a morte e pensei na minha avó! Eis que surge, atrás do prédio principal, uma estradinha, subindo uma encosta e chegando a um hotel que, realmente, ERA o mais barato da cidade.
Um prédio de 3 andares em forma de U, com um chafariz (sujo, quebrado e abandonado) no meio do pátio que também servia de estacionamento.
Meus black giants brothers desceram e me entregaram à uma recepção escura e toda blindada, com vidros espessos e sujos, de onde se via a doce figura de uma tiazinha anciã coreana, que falava um inglês bisonho e me atendeu pelo buraco que abria e fechava por baixo do vidro do balcão principal. Ela ficava dentro de uma espécide de jaula, sem contato com o mundo exterior.
Gritei minhas pretensões, fingimos que nos entendemos, dei o dinheiro adiantado e peguei a chave do quarto. Pela espelunca que era, o quarto servia plenamente! minha janela dava pra ribanceira que rolava até o estacionamento do supermercado, sem condições de alguém chegar até ela. Tomei um banho mega, encostei a cama na porta, pus uma sunga com meu parco dinheirinho e o passaporte DENTRO e deitei com meu cinto de couro e fivela de aço ao lado da cabeceira.
Esse descanso demorou uns 5 minutos.
Alguém bateu à porta. Abri. Era uma multata magricela, clássica junkie de pipe, meio fedida, com uma roupa que-vô-te-contá... perguntou se eu queria fazer sexo! LÓGICO QUE EU QUERIA!!!! Mas não com ela. Tchau.
Ela insite. Cinco bucks um boquete! (padrão de preço da Vila Mimosa, mas o da mulher era muito cracolândia).
Ante minha desistência, pergunta se sou gay, pois seu amigo é bonito (!!??!!) ou se tenho alguma doença, que pra ela não importa. Despacho educadamente e me preparo pra uma longa noite de espera pelo sol raiar!
Batidas à porta novamente!
Abro e dou de cara com meus guias. Falam rapidamente mil coisas, que entendo algo sobre amigos, cerveja, brasileiro e bagunça. Venceram. Visto a roupa e desço. Ali ERA a cracolândia do pedaço. Vários pipes acesos, uma galera pra lá de sinistra e eu quase não entendia nada do que eles falavam. Liguei o foda-se e comprei uma cerveja com a velhinha coreana.
De repente chega um cara num conversível antigo, bancos esfarrapados e fedorento. Tinha tudo dentro daquele carro. Eu e os guias entramos nele e partimos rumo ao (meu) desconhecido mais uma vez. Percebo que dois dos caras estão armados e pergunto se preciso de uma arma também, eles dizem que não, pois com eles estaria seguro. Ah bom! Despreocupação imediata! Depois da alma de Bob Marley rodar sobre nossas cabeças, paramos em uma liquor store e compramos uísque (começaram a falar a minha língua numa facilidade...).
Mostro meu canivete humilde que, acreditem, fez o maior sucesso, pois ele era de aço japonês, que se encaixava na palma da mão e abria rapidamente. Troquei-o por uma garrafa de Jack Daniel´s.
Voltamos ao pátio e a mulambada toda havia partido. Um dos meus guias me arruma outra mulher, muito melhor que a outra, mas me adverte que talvez tenha AIDS, pra que eu use camisinha. E tome-lhe a segunda broxada da noite!
Sento bêbado na varanda, matamos o JD ouvindo música democraticamente (cada um colocava uma por vez) e espero a chegada do sol.
Desço ao telefone público do pátio, peço um táxi que a vovó coreana me passa o número e vou pro centro da cidade, ao anel olímpico (era uma área de segurança máxima onde tinha o parque e outras atrações dos jogos).
E vem outro dia na bagunça...
(foto do Parque Olímpico do Centenário)

domingo, 5 de dezembro de 2010

MEMÓRIA DE MERDA 1


Perdi meu caderninho de memórias de viagens. Escrevia na época em que viajava pelo mundo sem grana, no perrengue de acompanhar de perto meu trabalho com algumas pessoas ao redor do mundo... Como as situações eram por vezes bizarras, resolvi anotar a maioria, mas agora perdi. Então decidi TENTAR reescrever, com o pouco que me resta de sanidade e memória...
A prmeira foi pros EUA, em 1996.
Fazíamos um trabalho visando o mês de outubro, em Portugal, e no meio do caminho ganhamos a possibilidade de testar nos EUA, em julho. Arrumei a grana da passagem subornando e chantageando a família, e como sempre deu certo. Mas não tinha grana suficiente pra ficar por lá.
Parti com minha megabolsa, carregando instrumentos de trabalho os mais variados (que NUNCA passariam da primeira revista hoje em dia, na neurose terrorista). E já fui recepcionado pela polícia do aeroporto de Atlanta, porque um dos aparelhos parecia uma bomba e outro uma pistola. Quando passou no raio X eu virei o principal suspeito de toda a área. Foram quase 15 cops around, alguns com armas em punho, e um que pediu gentilmente, encostando a arma quase na minha orelha, que eu me mexesse BEM DEVAGAR e abrisse a bolsa sem mexer muito as mãos (pelo que entendi do inglês dele, entre os saltos que meu coração dava dentro do peito...).
Passado o susto, tapinhas nas costas e desejos de boa sorte na viage (realmente eu precisaria muito disso).
Chegamos no terminal F, e eu me achando o poderoso, quis ir andando até a saída, pra "ver o aeroporto". Só depois de muita caminhada com a bagagem pesada me dei conta que havia um metrô DENTRO do aeroporto, com 7 estações (eu havia acabado de passar pela 6ª). Então esperei o trem e fui rumo à saída (sábia decisão, o aeroporto é um dos maiores do mundo...)
Finalmente pude testar meu inglês do BRASAS! E num é que deu certo gastar aquele tempo e aquela grana? eu entendia quase tudo o que as pessoas falavam!!! E vocês não tem noção do que é o sotaque americano por aquelas bandas... Saí e peguei uma van pra Maicon City, onde encontraria com meus amigos. Depois de 1h30 estava na cidade de Martin Luther King, Jr.
Achei a escola onde era o quartel general brazuca e percebi que a galera não acreditava muito que eu realmente apareceria por lá...
Como não era bem-vindo (pra variar) e não tinha dinheiro, tivemos que fazer uma alocação: eu ficava por lá, de dia, comia meio escondido no refeitório e fim de tarde fingia que ia embora pro meu hotel. Ao cair da noite, retornava escondido (não havia muros nem muitos obstáculos no lugar, pois era uma escola para cegos) e entrava no quarto de um camaradam dormindo escondido embaixo da cama. Pela manhã bem cedinho eu acordava e saía rápido, pra aparecer em seguida fingidno que tava chegando. Isso me custou alguns jantares de milkshake na lanchonete Crystal, uma espécie de MacDonalds genérico da área.
A couple of days later, fui fazer um reconhecimento da cidade, pequena e simpática, localizada nas antigas áreas de fazendas escravagistas de coleta de algodão. Andei por um bom lado até chegar à estação central de trem e museu Martin Luther King, Jr. Não imaginava que a cidade era bipartida: de um lado da linha do trem a paz, do outro, o caos. E foi por onde eu voltava alegremente, tirando fotso das casas velhas e sujas, quando um furgão me abordou. Só o sujeito que tava na porta já dava pra ver o tamanho da encrenca, mas quando ele cismou que eu era mexicano, tive que negociar a saída do bairro proibido. me foi indicada uma placa, mais ou menos 10 quarteirões de onde estávamos, e eu deveria alcançá-la em um período de tempo quase olímpico... o que fiz!!! Cheguei na escola quase infartando mas me livrei dos afroamericanos que queriam meu lombo chicano com jalapeños e Corona.
Então parti pra Atlanta. mas isso é outra parte, em breve...