NA SOMBRA...

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Rato vira-lata

Tem uma frase muito boa do Raul Seixas que significa que é melhor ser burro que sofrer pelas coisas da vida, mais ou menos isso.
Tô fudido demais porque, além de ser burro, eu sofro pelas coisas da vida.
Da minha, de amigos, do vira-lata vagante da minha área, do ratinho da minha cozinha (mamita vai matá-lo envenenado, em breve).
Com isso, a porosidade de minha sensibilidade não repele a quantidade de absurdo que vem e passa. E vou eu a buscar pandemônio na filosofia, nas idéias alheias próximas, no álcool, nas drogas proibidas pelos homens da lei que mais gosto e que menos me custam a civilidade (é isso? sou burro...). Assim o fervilhão me deixa pastando na impotência do grito inútil. Se o grito, que logo me deixa rouco mas é um berrante, é inútil, imagina tudo o que não tento calado?
Tento não me aproximar muito da atualidade.
Deixo minhas lágrimas escorrendo pelos povos incas, pelos índios que povoavam o Rio de Janeiro e São Paulo, pelos Bundas, que deram nome brasileirinho às nádegas sulamericanas, pelos igapós e igarapés que singravam minha floresta querida, reduzida a cimento e ignorantes, bestializados, pelos dinossauros (queria um de estimação, mas a porra da chuva de meteoros fudeu com tudo). E choro. Sinto a perda da cultura, a dificuldade de aceitação do diferente, desconhecido, não alinhado. Da afinidade com o silêncio humano pra que a natureza possa nos contar tudo o que viu e verá, o simples silêncio respeitoso a quem, de fato, comanda toda a balbúrdia incompreensível desde os tempos em que antropomorfizamos o inantropomorfizável! (hein? Pode ser assim?).
Ainda há pouco tempo convivi com mortes naturais e outras premeditadas de pessoas ao redor. E choro. Por estar vivo.
Não tenho escolha. O suicídio é honroso demais pra mim, que sou quase um pulha. Me resta viver.
Vou me aninhar com o vira-lata da rua ou meu pequeno ratinho azarado.
Quem sabe aprendo alguma coisa de útil com eles? Porque ultimamente meus semelhantes só me ensinam o que não consigo aprender nem apreender, talvez por estupidez, talvez por inocência ou respeito aos velhos índios que foram dizimados por acreditar demais.
Vou voltar a subir em árvores. Era dali de cima que eu achava tudo mais bonito, sem contar que é onde estão as melhores frutas.
Vou subir em árvores. Pra que as formigas andem em mim com a intimidade de um metrô de Tóquio.
Subir e escutar as árvores traduzindo o vento.
Essa sim, uma linguagem universal...